Um ótimo Natal e um excelente ano novo para todos! Que 2014 traga muita gloria e conquistas épicas para todos que terão seus nomes cantados pelos bardos!
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Instrumentos da morte – Parte III
A rainha
Aquilo era desconfortante e podia
sentir o suor frio escorrendo pela minha nuca enquanto seus olhos me estudava.
Eu não conseguia entender o porque da demora e mesmo sabendo que aquilo iria
acontecer, fiquei espantado quando fui informado que deveria me dirigir ate o
salão real por ordens da rainha.
E se estar frente a frente com a
pessoa mais poderosa do reino já era intimidador, ela conseguia tornar aquela
experiencia em um pesadelo. Haviam quatro cães deformados que comiam restos de
carne humana, ambos amarrados ao trono por grossas coleiras feitas de uma
corrente negra e pontiaguda, manchadas de sangue seco. A própria rainha se
vestia inteiramente de vermelho, ou melhor, as poucas peças que ela usavam eram,
pois ela vestia apenas uma saia que cobria pouco mais do que suas partes
intimas e uma peça de roupa para cobrir seus seios, deixando todo seu corpo a
mostra. Alguns dias depois daquela reunião eu descobri por meio de um bêbado que ela gostava de exibir seu corpo como uma especie de troféu.
- Meus cães te assustam ferreiro? –
ela perguntou quebrando de súbito o silencio e me espantei com sua voz fina
como a de uma criança.
- Não majestade.
A rainha estralou seus dedos e um
homem vestido de bobo da corte lhe trouxe um chicote. Era uma arma grosseira,
feita de couro e tingida de vermelho. Ela pegou a arma, se levantou e me para
minha surpresa me golpeou no rosto.
O impacto me fez cair no chão e senti o
sangue escorrendo pela minha bochecha esquerda e sujando minha camisa.
- Odeio mentirosos ferreiro, é bom se
lembrar disso.
- Sim majestade.
Ela me circulou com passos lentos,
ameaçou me atacar uma ou duas vezes e depois parou atrás na minha costa,
segurando meus ombros e sussurrando em meu ouvido.
- Você me fez um grande favor
ferreiro, salvou um de meus melhores homens e ajudou a dar mais um passo para o
fim desta guerra maldita. Eu quase posso ate sentir o pescoço de minha irmã nas
minhas mãos – ela apertou meus ombros enquanto falava aquelas ultimas palavras,
cravando sua unha em minha carne.
Aguentei a dor, não para parecer
forte, mas temia por minha vida em sua presença, se ela me chicoteou por
aquilo, ninguém poderia dizer do que mais ela seria capaz.
- Vou te colocar nas tropas de
Augusto, tenho certeza que ainda vou ouvir falar muito sobre você... Ou quem
sabe você prefere que eu lhe de uma recompensa e te mande de novo para sua vida
pacata e miserável?
Pensei naquilo, poderia ter aceito o
dinheiro e vivido longe dela, vivido em paz e sossego dentro de minha forja.
Mas havia um sentimento estranho dentro que não entendia na época, uma
sentimento que me fazia querer lutar ao lado de Augusto.
- Prefiro lutar – e quando disse
aquelas palavras me perguntei pelo que estava lutando? Por uma rainha que eu
mal conhecia e que preferia morta no pouco tempo em que estive em sua presença?
Por Augusto? Eu não tinha ideia do porque eu estava lutando.
- Ótimo, mas primeiro você precisa de
uma arma decente, vou providenciar que não precise mais usar esse martelo ridículo.
- Sim majestade...
Ela ordenou que eu me retirasse e
encontrei Augusto do lado de fora do salão real, ele acenou com a cabeça para
que eu o seguisse e me levou ate seus aposentos. A porta foi trancada e com um
olhar extremamente serio ele me perguntou:
- O que achou dela?
Não respondi a pergunta.
- Você é esperto, mas pode ser honesto
comigo, eu odeio essa mulher, as vezes eu amaldiçoo a honra e o dever que me
acorrenta a essa bruxa maldita.
Fiquei em choque ao ouvir aquelas
palavras daquele homem, todos sabiam o quanto Augusto era justo e seguia as
leis como um pato que segue sua mãe, por isso era estranho ouvir aquelas
palavras de sua própria boca.
- Senti a mesma vontade se é isso que
quer saber.
- Perfeito – ele disse e esboçou um
leve sorriso que não podia compreender na época – Por horas temos uma nova
missão Ulthred e como meu mais novo homem, espero muito de você nela.
- E qual seria essa missão?
- Vamos invadir um forte e matar todos
que estiverem dentro dele, é um ponto estratégico que deve ser capturado para
ganharmos essa guerra.
- Entendo... – A perspectiva de uma
batalha invadindo um forte não era a mais agradável de todas, mas sabia que não
poderia voltar a atrás com minha palavra – E quando partimos?
- Ao anoitecer, descanse, beba nas
tavernas, faça o que quiser, mas esteja pronto ao anoitecer.
- Tudo bem – falei e me virei para
sair de seu quarto, quando abria porta ele de súbito falou:
- Ulthred, eu posso confiar em você
não posso?
- Sim – respondi estranhando a sua
pergunta.
- Ótimo, pode ir agora – e então sai
do quarto pensando no significado daquelas palavras.
Agora eu era oficialmente um soldado,
lutaria lado a lado com Augusto, serviria uma rainha louca que odiei desde que
coloquei os olhos nela e aquilo era apenas o começo de algo muito maior.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
Profecias do Ultimo Dia – Parte II
O
Herege
O templo principal de nossa religião e
morada de nossos mais importantes membros, havia sido construído dentro de uma
montanha de formação única. A montanha principal que sediava nossa morada subia
aos céus como uma grande lança e se perdia de vista e estava sempre coberta por
gelo, apesar de nunca estar frio, um fenômeno que jamais consegui compreender.
O que tornava tudo mais interessante era que essa mesma montanha era cercada
por uma segunda, em menor estatura que a circulava como uma muralha natural.
Havia uma passagem entre essa segunda montanha, que servia como única forma de
entrada e saída do templo, em uma caminhada que durava três dias e dava para
uma pequena estrada em uma floresta que poderia ser atravessada em mais cinco
dias.
Foi somente no quinto dia de viagem
que eu percebi o quão tolo havia sido durante toda a minha vida. Era noite
quando a conselho de Carlos, um dos melhores generais de nossa ordem, montamos
um acampamento improvisado fora da estrada, para não chamar atenção e deixar a
espada em segurança. Éramos oito ao todo, um numero que considerava pequeno
para uma missão tão importante, mas os anciões insistiram que eu deveria viajar
com poucos homens pois a descrição era fundamental e isso tornaria a viagem
mais rápida.
Nosso grupo era composto por mais
cinco guerreiros experientes e um sacerdote que deveria me orientar e servir
como guia espiritual em nossa jornada, mas ele mal falava comigo durante a
viagem, como se estivesse nervoso com alguma coisa.
Eu também havia notado que todos
estavam nervosos naquela noite enquanto montavam o acampamento, ascendia a
fogueira e aproveitavam do calor que ela produzia. Hora ou outra alguém me
olhava rapidamente e depois desviava seu
olhar para a fogueira. Não sei bem porque mais pensei na espada presa a minha
cintura, e toquei seu cabo para sentir seu poder, o que deixou os homens mais
nervosos e me fez entender que algo ali não estava certo.
Desembainhei a espada e vi o pavor em
seus olhos, eles estavam com medo e havia tensão entre todos, mas por quê?
- Esta espada é magnifica – falei por
falar – Posso sentir o poder que pulsa de sua lamina e o peso de nossa missão
sagrada.
- Devíamos testa-la não acha? –
sugeriu Carlos, se levantando e desembainhando sua propria espada – Um pequeno
treino seria ótimo para você.
Os homens não me deram tempo de
responder, uma a um eles formaram um circulo a nossa volta, como se estivessem
formando uma pequena arena de treinamento. Senti um frio percorrendo minha
espinha quando segurei a lamina a minha
frente com as duas mãos, e vi o reflexo de uma das fogueiras refletida em sua
lamina. Para meu espanto, pela primeira vez eu pude vislumbrar uma visão do
futuro nas chamas. Vi o homem que a minhas costas me atacar de forma covarde e
errar seu golpe, vi os demais me atacando sem piedade e minha morte lenta.
Naquela hora eu soube o que devia
fazer e que Dorum estava do meu lado.
- Sabe Carlos – falei com uma confiança estranha, pois não estava com medo – dizem que você é um dos melhores
espadachins de nossa ordem. Fico pensando o que aconteceria se isso não fosse
apenas um treino.
E com aquelas palavras tomei a dianteira
e me virei golpeando o homem que iria me atacar, a lamina cortou a carne
penetrando fundo no osso, abrindo seu corpo desde o ombro esquerdo ate o fim do abdômen. Parecia que meu oponente era um pedaço de papel.
Ninguém esperava por aquilo e entre a
morte do primeiro homem e o tempo que eles levaram para perceber que eu havia
descoberto seu plano, arranquei a cabeça de um segundo homem que rolou no chão
boquiaberto.
- Matem-o – gritou Carlos tentando
fazer seus homens se recuperarem do choque e usarem seu numero para me conter.
Mas eles estavam apavorados, deviam contar com uma morte rápida e sem reação,
nenhum deles esperava precisar erguer sua espada contra uma lamina divina e seu
escolhido.
E eu parecia um arauto da morte
lutando com ela, era como se meus movimentos estivessem sendo guidados por uma
força externa. Bloquear e atacar sem dificuldade, como se meu corpo
simplesmente soubesse o que fazer. E eles apenas morriam com desespero nos
olhos.
- Traição é punível com a morte –
falei para Carlos com minha lamina em seu pescoço. Ele estava caído no chão,
gemendo e segurando o que restou do seu braço esquerdo. Quando ele havia
tentado me matar, acreditando que estava distraído com o que havia restado de
seus homens, me esquivei de seu golpe e
descepei seu braço, depois bastou chuta-lo para que ele caísse e ali
ficasse.
Ele tentou cuspir na minha cara mas
sua saliva caiu em seu próprio rosto.
- Você é uma vergonha, é indigno assim
como seu antecessor, nossa fé precisa de homens fortes que possam nos guiar
pelo verdadeiro caminho.
- E esse caminho apenas te levou a
morte seu to-lo.
- Minha morte marcara o começo de uma
nova era no ordem, logo você sera caçado como um herege, o conselho governara e
uma verdadeira cruzada terá inicio. Não seu tolo, meu caminho te levara a morte.
Foi então que eu notei que o sacerdote
não estava no acampamento, ele devia ter aproveitado a confusão e voltado para
o templo, contado que eu havia traído o grupo e assim seria caçado como um
herege caso escapasse com vida do combate.
Abri a garganta de Carlos de forma que
ele morresse lentamente com a perda de sangue e limpei minha lamina. Juntei
tudo o que podia e parti sozinho.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Profecia do fim dos tempos.
“Nas sombras um
exercito se formara e cobrirá a terra com morte e sangue.
Em sua marcha não
haverá gloria ou honra aos mortos.
Quando aquele que
morrer retornar a este mundo
Peguem suas armas,
beijem seus filhos e se despeçam de suas mulheres.
Pois é chegada a hora
de lutarem em meu nome.
E morrer por tudo o
que acreditam.”
-
Profecia de um velho skald.
sábado, 23 de novembro de 2013
Um Conto de Sangue e Ouro - Previa
Obs. Não contem todo o capitulo.
Capítulo I: Júbilo
mortal
Havia mais pessoas
naquele salão do que eu imaginava. Alguns poucos nobres cavaleiros e seus
escudeiros provavelmente em busca de uma chance de provar sua habilidade e
valor em combate e com isso fazerem seus nomes percorrerem todo o reino, no
entanto a maioria deles não passava de mercenários, alguns profissionais em
busca de ouro e outros onde provavelmente eu me encaixava, de pessoas comuns
que vieram a este lugar por necessidade ou pela promessa de ouro fácil. Porém,
como dizia meu falecido pai, onde há ouro existe problema...
Ao todo devíamos totalizar
cerca de trezentas cabeças, mas duvidava que isso servisse para alguma coisa em
um combate real ou que todos não sairiam correndo ao menor sinal de perigo.
Ainda assim, todos tentavam demonstrar coragem, narrando combates que
provavelmente jamais ocorreram ou aventuras épicas que mais pareciam histórias
para crianças dormirem. Conforme as aventuras eram mencionadas, vozes tomavam
conta do lugar não havendo demora para que, com a chegada de mais pessoas, mais
histórias épicas fossem contadas a ponto de ficar quase impossível distinguir
uma palavra sequer que fosse dita naquele lugar que agora mal podia comportar
todos que estavam ali, devido seu tamanho.
Aquele era
provavelmente um salão usado para jantares e nada mais do que isso, suas
paredes eram simples, feitas de pedras. Candelabros negros, suportando velas,
em todos os cantos concediam ao lugar um toque quase sobrenatural. Os móveis
tinham sido retirados de forma que houvesse espaço para comportar o número de
pessoas que viriam ali naquela tarde. Havia também um pequeno palco improvisado
onde estava sentado um homem gordo e pequeno, de aproximadamente sessenta anos.
Saliva e restos de comida caíam de sua boca conforme ele abocanhava coxas de
frango, como um animal faminto que não se alimentava há uma semana.
Ao seu lado estavam
duas jovens seminuas, de aproximadamente quinze anos. Uma delas era alta e
ruiva, com olhos vazios e parecia não ter qualquer emoção, pois sua expressão
nunca mudava enquanto ela enchia repetidamente a taça de vinho daquele homem. A
outra jovem era de baixa estatura e muito bonita, tinha longos cabelos loiros
que caíam até sua cintura e demonstrava clara aversão por estar ali. As duas
serviam seu senhor obedientemente, fazendo tudo o que lhes era pedido. Penso
que faziam, também, mais do que aquilo.
Havia também outro
homem, ao lado do velho. Alto e magro, usava seu cabelo negro para trás com
algum tipo de óleo e estava apoiado em uma bengala de madeira.
- Senhores, creio que
não há porque adiar nossos negócios – falou o homem com uma voz seca enquanto
batia sua bengala no chão tentando chamar a atenção para si.
Murmúrios
demonstravam que todos ali concordavam e estavam ansiosos para ouvir a proposta
de emprego que lhes era oferecida. Um homem ao meu lado diz que aquele seria um
cargo fácil, aquele senhor sempre pagava altas quantias de dinheiro e que todos
estariam se afogando em cerveja ao cair da noite.
- Os negócios de meu senhor têm sofrido com
constantes ataques em sua rota comercial ao leste, não sabemos ao certo por quem
cometidos, já que os contos diferem sobre ladrões ou grupos de selvagens que
podem ter se instalado na região– a menção dos selvagens, ou bárbaros como eram
conhecidos mais comumente, havia causado certo desconforto nos que estavam
presentes e parecia que muitos deles haviam desistido do serviço antes mesmo de
ouvir a proposta – Para tanto, nós queremos contratar suas espadas para
escoltar uma caravana comercial que partirá em três noites rumo a capital.
A ideia de enfrentar
hordas bárbaras havia desanimado muitos dos presentes que não fizeram cerimônia
em retirar-se do local, no entanto ninguém poderia culpá-los por suas
covardias. Os povos bárbaros, como eram conhecidos, eram um povo vindo das
terras do leste, um local sem leis ou assim acreditava-se, pois ninguém de fato
havia ido até lá e retornado para relatar, mas ninguém poderia questionar a
voracidade em batalha daqueles homens. Muitos foram os confrontos contra esses
povos e poucos que obtiveram resultados de vitórias dignas dos contos que os bardos
amavam não que isso os impedisse de compor eles. Enfrentar um bárbaro em
combate era quase como enfrentar a morte em pessoa, poucos podiam fazê-lo.
- Vejo que alguns de vocês não são covardes –
disse o homem aos que ainda estavam no salão, zombando daqueles que haviam se
retirado – Saibam que cada um de vocês será recompensando com cinco moedas de
prata e vinte de cobre e a recompensa dos que não sobreviverem será divida
entre os demais.
Não era uma oferta
fácil de se recusar, ao menos do meu ponto de vista. A quantia era
significativa mesmo sem o adicional e obviamente muitos iriam morrer no meio do
caminho. Era fácil identificar o pensamento de todos que ali estavam. Se o medo
da morte havia os instigado a abandonar o serviço, o som das moedas sendo colocadas
no chão, expostas em um grande baú, trouxe nova confiança e poucos se
retiraram.
Há um ditado de onde
venho, “Dê uma moeda de ouro a um pobre covarde e terá um soldado corajoso” o
que era verdade, porém todos se esqueciam de colocar o adjetivo ignorante no
final da frase. E agora eu não era diferente deles, talvez até fosse o mais
tolo naquele lugar.
- Peço que os interessados descansem ate o dia
da partida – disse o homem como se estivesse terminando seu discurso - Vocês
podem armar suas barracas no jardim e ao redor do castelo.
- E quanto a nós? – disse um dos cavaleiros,
não sabia dizer qual – Espera que nos instalemos junto a esses homens? Somos
nobres e merecemos tratamento como tais – odiava esse discurso usado pela
nobreza, que tentava sempre se colocar em um nível superior e rebaixar aqueles
que não eram seus iguais.
- Seus aposentos já
foram providenciados. Meu senhor deseja que tenham a melhor estadia enquanto
estiverem sob seu teto.
Aquilo pareceu ter agradado aos cavaleiros que
não seguraram o menosprezo para com os demais que, por sua vez, pareciam não
ter se importado com as risadas e insultos, talvez por já esperarem algo do
tipo ou estarem acostumados.
- Esses desgraçados são os mais infelizes por
aqui – disse um homem que aparentava ter quarenta anos, com o rosto coberto por
um longo cabelo loiro e que terminava em uma barba igualmente longa.
- Por quê? – perguntei curioso com o
comentário e recebi um olhar de perplexidade de volta.
- Você é novo não é? Logo notei – falou o homem
pensativo – Veja o emblema que eles carregam, um leão sobre uma rocha, aquele é
o símbolo do lorde Ricardo.
- E? – perguntei não entendendo.
- E provavelmente este porco gordo pediu ajuda
a Ricardo que mandou esses infelizes a fim de proteger suas carroças de
mercadoria – respondeu o homem me encarando – Diferente da gente, esses caras
não tem escolha.
Não havia pensado nisto antes, mas aquele
homem tinha razão, ao menos nós mercenários poderíamos escolher se aceitaríamos
o trabalho ou não, aqueles homens, por servirem seu reino, não possuíam esta
escolha e quase tive pena deles por isso e então me lembrei de como eles nos
tratavam.
- Sorte sua. Por ser apenas um ferreiro, não
terá que lutar no campo de batalha conosco – disse o homem ao olhar meu martelo
de forja e sabia que não passava de uma piada pelo tom de sua voz.
- Sou um mercenário.
- E já matou alguém antes?
- Já – menti e sabia que ele havia percebido.
- Quantos?
- Não me lembro.
- Sei – e com uma risada ele bateu em meu
ombro antes de se retirar com os demais.
A verdade era que nunca havia matado um homem
antes, nem ao menos havia estado em um combate real. Minha pouca experiência em
combate vinha de brigas entre garotos e das poucas vezes que meu pai resolveu
me testar, o que não valia de muita coisa já que ele era um ferreiro. Seria
loucura topar o trabalho, de certa seria morto antes mesmo de conseguir revidar
e acho que a loucura havia me encontrado, pois estava decidido a aceitar a
oferta. Mas que escolha eu tinha? Precisava de dinheiro e teria que arriscar.
Quando me dei conta,
quase todos haviam deixado o local, nem mesmo o “porco” estava lá comendo seus
pedaços de frangos nojentos. No entanto preferi ficar ali por algum tempo,
aproveitando o silêncio para pensar no que iria fazer. Tinha cerca de dois dias
para treinar um pouco e duvidava que acharia alguém disposto.
Encostei-me sobre uma
das janelas e senti o vento tocar meus cabelos. Era uma bela manhã, o céu
estava límpido e os primeiros raios de sol surgiam. Fiquei algum tempo parado
naquele lugar observando os homens arrumarem suas tendas ou improvisando um
local para ficarem. Dois homens disputavam a sombra de uma árvore e quase se
mataram por ela, terminando apenas com um deles ferido.
Apertei com força o meu martelo. Era uma arma
grosseira, de forja com um cabo maior do que o comum, não era de fato uma arma
de guerra. No entanto gostava da sensação de tê-lo por perto, cresci moldando o
metal eles então se fosse para o campo de batalha, morreria com um em mãos.
Obs. Não contem todo o capitulo.
A amante da guerra – Parte II
A queda da besta
Foi ao cair noite que meu pai e os outros
voltaram da caça e fiquei ao mesmo tempo triste e com raiva ao ter tentado
imaginar o que eles iriam pensar quando vissem a tribo completamente dizimada,
as mulheres jogadas ao chão depois de tudo o que sofreram, mas pensava principalmente
no que meu pai teria sentido quando me viu acorrentada a um troco,
completamente despida e envergonhada.
No começo, boa parte dos homens ficaram
de guarda enquanto outros se satisfaziam, mas com o passar das horas e sem
sinal de meu pai e dos outros, a maioria começou a relaxar e se embebedar.
Quando me dei conta, quase todos estavam desmaiados, brigando entre si e alguns poucos, o que incluía o líder daquele bando, o qual agora conhecia pelo nome de cara de cicatriz, estavam de guarda.
- Espero que seu pai chegue logo,
estou cansado de esperar – ele falou com aquele halito horroroso de um homem
que não se cuidava enquanto apertava meu rosto.
- Ele vai e você vai morrer cretino –
mas apesar de minhas palavras serem duras, desejava que meu pai não voltasse
pois tinha um péssimo pressentimento que estava me assolando desde que fui
posta naquele tronco para ser envergonhada.
Por isso mesmo quando ouvi seu grito
de guerra e o som de homens furiosos correndo, um misto de dor e esperança se
somou em meu peito.
- Pai! – gritei quando o vi se
aproximar e partir a cabeça de um homem com sua espada e matar outros dois que
entraram em seu caminho. Quando ele e dois de seus homens estavam a cerca de
vinte passos de minha pequena prisão, cara de cicatriz e quatro dos seus
barraram seu caminho. Os dois homens do meu pai se esforçaram para lutar contra
os quatro dele e morreram com honra ao levar três para o outro mundo.
- Olhe bem garota, enquanto mato seu
pai diante dos seus olhos – gritou cara de cicatriz e meu pai rugiu como um
fera enquanto seus olhos iam dele ate mim.
- Maldito, eu vou te mandar para o
outro mundo e os deuses vão te fazer pagar pelo que fez a ela – com aquelas
palavras meu pai avançou como uma fera e suas armas se encontraram, mas o
machado de seu oponente era uma arma grosseira e mais potente que sua espada
que se quebrou com o choque.
- Há esse é o lendário matador de bestas?
Não passa de um fraco com um brinquedo nas mãos.
- Maldito – eu vou arrancar teu
coração com minhas mãos e oferecer aos deuses.
- Um homem morto não pode fazer ameaças – e meu coração se encheu de um vazio quando vi o machado descer e
cortar ao meio a cabeça do meu pai – Um brinde ao grande matador de bestas que
morreu como um cão no deserto!
Os homens de Cara de cicatriz riram
enquanto viam o machado coberto de sangue ser erguido em sinal de vitoria e
mais uma vez vi o resto de minha tribo ser dizimada diante dos meus olhos e o
sangue de seus corpos pintarem o chão.
- Agora você é minha - ele falou enquanto me erguia pelos cabelos
ao máximo que as correntes me permitiam ser erguida.
Naquela hora eu vi toda a minha vida se
acabar, já não havia ninguém que amava ou compartilhava uma historia vivo,
todos os que conhecia haviam perecido em um único dia, exceto algumas mulheres
que compartilhavam comigo um destino que até então havia sido adiado pelo puro
prazer daquele homem, mas que agora se concretizaria e poria um fim em tudo o
que eu fui.
E então ele me arrastou para dentro da
tenda de meu pai, enquanto olhava os homens que haviam sobrevivido rirem do meu
destino, e enquanto as poucas mulheres que ainda tinha forças para me olhar,
diziam de forma silenciosa que estavam desesperadas e entendiam minha dor. Quando
fui jogada para dentro da tenda, longe dos olhares de seus homens, ele esmurrou
meu rosto com tanta raiva que não
entendi o que estava acontecendo.
- Fique quieta no seu canto vadia –
ele gritou e me bateu novamente, depois pegou uma caneca de cerveja, bebeu um
largo gole antes de joga-la no chão irritado e se jogar nas peles de meu pai.
Fiquei olhando-o confusa enquanto ele
me encarava com tamanho ódio nos olhos, sem entender o motivo de sua raiva e o
porquê dele não ter feito nada além de ter-me golpeado, quando finalmente um
pensamento me ocorreu. Ele era impotente e não poderia me fazer mal algum.
Não pude esconder o sorriso quando
pensei naquilo e acredito que estava certa, pois ele se levantou e me deu outro
murro que me fez cuspir sangue, mas eu não me importei com seus maltrato ou com
a dor, pois em meio ao sofrimento eu tive certeza de uma coisa.
Que havia esperança e logo eu
castraria aquele maldito impotente.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Instrumentos da morte – Parte II
Uma noite de morte
Aquela devia ter sido a pior viagem de
minha vida. O simples fato de estar junto com um dos homens mais poderosos de
todo o reino e no momento um dos mais procurados também dependendo do lado em
que se estivesse na guerra tornava cada segundo uma experiencia aterrorizante,
era impossível saber o que iria acontecer, qualquer pessoa poderia ser um inimigo e um inimigo significava encarar a morte.
E infelizmente eu ainda precisava
tomar cuidado com Augusto, escondido na parte traseira da coroça, coberto por
feno e equipamentos diversos que trouxe comigo. Seus ferimentos não eram graves
mas o deixaram debilitado por alguns dias e como não havia um medico que
pudesse confiar na época, ele demorou para se curar, fazendo daquela uma viagem
longa, assustadora e tediosa.
Ah e não podia me esquecer que seu
lobo caminhava ao nosso lado por toda a viagem o que chamava a atenção de
qualquer um que cruzasse nosso caminho.
- Você tem sido muito bom comigo –
disse Augusto quando havíamos acampado no meio da mata, já próximos de nosso
destino.
- Não precisa me agradecer – e realmente
não precisava, eu estava fazendo aquilo por boa vontade, apesar de nunca
entender porque havia me envolvido nisso, talvez fosse pelo fato dele ser quem
fosse. Havia algo nele que atraia as pessoas.
- Ainda vou te recompensar pelo que
fez por mim e por todo o reino.
- Obrigado – falei sem saber o que
responder.
Aquilo era estranho, a alguns dias eu
estava quieto em minha forja, criando armas para serem usadas em uma guerra que
eu jamais imaginei tomar parte, exceto fabricando tudo o que fosse necessário para que ela continuasse e agora estava no meio da mata, com Augusto ferido sobre meus cuidados e rumo a um encontro com a rainha. E aquela era a parte
mais assustadora de todas.
Naquela época fazia dois anos que
aquela porcaria de guerra havia começado e não podia reclamar disso, uma guerra
era uma porcaria que acabava com um reino, uma interna então era algo catastrófico mas era bom para pessoas como eu, que podiam lucrar com isso. O problema era o motivo que levou o reino a se dividir em um mar de sangue.
Amanda assumiu o trono com a morte de
seu pai. O falecido rei não tinha nenhum herdeiro que pudesse assumir o trono
exceto suas duas filhas gêmeas e obviamente a mais velha assumiu a posição de
rainha. Para a infelicidade de todos ela era louca e sádica se todos os rumores
estavam certos e em seu poder o reino se transformou em um pesadelo, haviam
leis mais restritas e sem sentido, havia tortura em publico e coisas que
preferia não lembrar.
Não demorou para que uma revolta civil
tomasse conta do reino. Com o descontentamento muitos nobres e boa parte do exercito
começou a apoiar Julliet a irmã mais nova e uma pessoa amável como fui
descobrir.
E eu estava indo me juntar a pior
delas.
Eclipse, o lobo negro de Augusto que
ate então parecia estar dormindo se levantou e começou a rosnar. Augusto estava
setado encostado na carroça e olhou para a direção que o lobo encarava, levando
o punho ate o cabo de sua espada apesar de não estar em condições de lutar.
Segurei uma espada que havia trazido comigo para a viagem e me levantei.
- Algum animal talvez?
- Não, Eclipse é bem treinado... Melhor
se preparar.
Uma seta cortou um pouco do meu cabelo
e um filete de sangue quando raspou em minha orelha esquerda e bateu na
carroça, próximo a Augusto. Com o ataque Eclipse sumiu pela floresta e alguns
segundos depois um grito ecoou pela escuridão e três homens saíram do meio da
mata vestido com trapos e empunhando armas velhas.
- bandidos – falei baixinho quando o
mais rápido me alcançou e aparei o golpe de sua espada, chutando sua virilha o
que o fez envergar para frente e facilitar que minha lamina entrasse em seu abdômen. O segundo, que tinha o tamanho de um urso e era tão peludo quanto
correu em direção a Augusto, certo de que conseguiria mata-lo sem esforço enquanto
seu colega lutava comigo.
Como se a fera tivesse algum tipo de
ligação com seu dono, Eclipse surgiu novamente e saltou de encontro do homem,
mordendo seu pescoço e o jogando no chão que foi imundando de sangue enquanto o
lobo estraçalhava-lhe a garganta. A cena nojenta fez com que o ultimo dos bandidos
se mijasse e ficasse parado tremendo.
- Misericórdia – ele disse caindo de
joelho no próprio mijo.
- O que eu faço com ele – falei colando
a lamina de minha espada em sua garganta.
- Mate-o, essa escoria não merece
viver.
O homem tentou falar algo mas abri sua
garganta e o corpo caiu duro no chão. Olhei para o corpo e depois para o lobo
que se alimentava do homem urso.
- Não vou me acostumar com isso.
- Fica fácil com o tempo – ele sempre
falava da morte como algo fácil de se lidar, mas ao mesmo tempo era um homem
que valorizava a vida, em especial a de seus companheiros de guerra como fui
descobrir algum tempo depois.
Afinal, eu ainda iria matar muitas
pessoas sobre o seu comando.
domingo, 17 de novembro de 2013
Profecias do Ultimo Dia – Parte I
O Herdeiro e o Mensageiro
Havia participado daqueles ritos por
tantas vezes que minha memoria havia se esquecido do numero e ainda assim não
conseguia me acostumar em ter que cortar a palma de minha mão e deixar o sangue
escorrer para uma pira de fogo que exaltava um fedor insuportável. Quando as
primeiras gotas caíram na pira o fogo cresceu como se alimentado pela energia vital
contida em meu sangue e dançou como se tivesse tomado vida própria.
E não conseguia ver nada.
- Não se preocupe jovem mestre – disse
um dos mais velhos de nossa ordem e encarregado daqueles rituais – Leva-se
muito tempo para poder ver o que existe dentro das chamas, o futuro não é
revelado antes que a pessoa se torne digna de vê-lo.
- Como posso herdar a ordem se não
consigo exercer os meus deveres? Odeio duvidar das palavras de nosso Abençoado
Val the’l, mas não vejo porque deveria suceder seu trono. Dorum não me ama.
- Dorum ama a todos - repreendeu o
mestre dos rituais – Mas tudo tem seu tempo.
Apertei meu punho cortado e joguei
mais sangue dentro da pira e tudo o que consegui foi perder mais do meu
precioso sangue.
As portas da câmera de rituais foram
abertas e um jovem invadiu o aposento apreçado.
- Jovem mestre, mestre dos rituais –
ele abaixou a cabeça em comprimento e quando o mestre dos rituais sinalizou
para ele se erguer, o jovem ofegante me encarou – Nossa excelência o Abençoado
requer sua presença, com urgência.
Sai sem deixar que os dois falassem
qualquer coisa, estava a tempos na ordem e mesmo sendo escolhido para
sucede-la, não conseguia me acostumar com a forma ridícula que todos se
comportavam. Odiava os títulos, odiava a educação exagerada e forma pomposa que todos fingiam falar.
Passei pelos corredores de mármore branco que ligavam a câmera dos rituais ao salão principal. No caminho haviam
muitos acólitos e mestres da ordem, mas nenhum deles ousou falar comigo pois
meu ódio e raiva estavam estampados em meu rosto, por isso eles se contentavam
em me reverenciar e ficar calados.
O salão estava quase vazio, o que era
raro. Era comum ver dezenas de acólitos perguntando a Val sobre os segredos de
nossa fé, sobre o mundo e sobre Dorun ou sua esposa Elf’el.
- Orl’har Mai Dorum – falei como era o costume ao ficar na presença daquele homem. Dizíamos aquela frase para quase
tudo.
- Orl’har Mai Dorum – respondeu Val que
me encarava com um olhar preocupado e isso era algo raro de se presenciar.
Val estava sentado em seu trono de
ouro, trajando suas vestes brancas e simples. Mesmo sendo nosso líder, ele abdicou de qualquer luxo e se vestia como qualquer acolito. Uma batina branca
e uma corda preta amarrada a cintura.
Ao seu lado estavam dois homens, que
alem da batina vestiam uma túnica e algumas pedras preciosas presas ao seu
cinto, que indicavam seu status dentro da ordem. Eram Carmiron e Jaspiron,
irmãos gêmeos que cresceram dentro da ordem e ascenderam ao conselho dos dez,
um grupo seleto que cuidava da ordem em nome de Val.
- Abistam – falou Val e sua voz
denunciava sua preocupação e isso me incomodava – Dorum me enviou um sinal, uma
mensagem triste e preocupante.
Fiquei em silencio encarando-o e
imaginando o que poderia ter deixado-o naquele estado.
- Uma grande sombra paira sobre o
mundo e a luz de Dorum esta sendo coberta por ela. Uma guerra de proporções
nunca antes vistas vai cobrir o mundo dentro de pouco tempo e temo pelo que
possa acontecer.
O mundo sempre estava coberto por um
sombra e o mundo sempre estava em guerra, cada uma sempre maior que a outra.
Para mim isso não passava de exagero.
- Tenho sonhado com minha morte, com a
morte de nossos irmãos e com a queda de nossa fé. Tenho visto nas chamas um
homem, mas sua imagem é confusa e não sei quem é ou seu papel nesses eventos –
ele respirou profundamente procurando as palavras para continuar – Os tempos
estão acabando e você ira assumir o trono em breve, pois meu tempo é curto
neste mundo.
- Você ainda vivera por muitos anos –
falei sem esconder minha descrença com o que estava ouvindo e enquanto os dois
anciões desejavam me repreender, Val apenas suspirou como um pai que vê um
filho cometendo um erro e sabe que esse mesmo erro é que deve ensina-lo sobre
o que é correto.
- Abistam, você sempre foi mais
rebelde e o mais descrente de todos os que já passaram por essa ordem, mas existe
bondade em seu coração e sinto que Dorum te abençoou mais do que qualquer um de
nós. Você ainda vai entender – Val fez um sinal para os dois, que pegaram uma
caixa posta sobre a mesa perto do trono. Carmiron retirou uma espada de dentro
da caixa e a entregou a mim após se ajoelhar na minha frente – Esta é a sagrada
espada de nossa ordem, a arma dada a nosso fundador pelo próprio Dorum para que
ele lutasse com as trevas quando a hora chegasse. Ela é sua.
Fiquei inquieto enquanto segurava o
cabo da espada, podia sentir a energia que emanava daquela lamina e tinha
certeza de que ela não era desse mundo. A espada tinha uma cor branca como
leite e as vezes parecia emanar uma aura dourada. Sua guarda e seu punho eram
feitos de ouro e havia uma âmbar vermelha no pomo em forma de grifo.
- Com minha morte eu lhe deixarei uma
ultima missão, caminhe pela terra, converta os infiéis e forme o maior exercito
já visto, o exercito de nosso senhor que carregara sua luz e banira o mal que
recai sobre esse mundo. Você tem a maior missão dada a um de nos, de unir os
povos e derrotar nossos inimigos.
- Eu... – Não conseguia encontrar as
palavras certas para descrever o que estava sentido e pensando sobre tudo
aquilo, ao mesmo tempo que me parecia uma loucura de um velho senil, sentia o
peso do destino sobre minhas costas – Não sei se posso.
- Você pode, só você pode. Quando eu
morrer, você partira com um grupo seleto de meus melhores homens e começara sua
cruzada. O tempo é curto.
Com aquelas palavras, ele fez um sinal
para que o deixasse a só. Levei a espada para meus aposentos pensando sobre
tudo o que havia acontecido e encantando com o poder que sentia ao lutar contra
um inimigo imaginário.
Passei a noite meditando em frente a
chama de minha lareira e quando o dia havia chegado, o sino de nossa ordem
havia soado e eu soube antes de qualquer um me dizer que Val havia falecido e
descansava no Hall das mil almas.
Querendo ou não, minha cruzada havia
começado.
Instrumentos da morte – Parte I
Metal e Sangue
Era uma noite como qualquer outra daquela
época do ano, escura e úmida, onde não se podia encontrar qualquer alma viva
aquela hora da noite. O que a tornava perfeita para moldar o aço e dar a vida a
novas armas.
Não gostava de ter contato com as
outras pessoas do vilarejo, sempre fui um homem de poucos amigos e por isso
preferia trabalhar na calada da noite, com a lua como minha única companheira.
Construí minha casa e minha forja em
um local um pouco mais afastado do que o resto do vilarejo, dessa forma não
incomodaria ninguém durante a noite e poderia trabalhar em paz. O que era
perfeito naquela ocasião, pois estava forjando uma nova espada e se tudo
ocorresse como esperado, se tornaria minha obra prima.
Ouvi o som da lamina quente chiando
quando colocada em água fria que se misturou aos raios, me impedindo de ouvir o
som da batida em minha porta. Foi somente quando ela se abriu e um homem caiu
para dentro dos aposentos que me dei conta que havia alguém ali.
- Mas o que?
- Ajude-me – disse o homem com uma voz
fraca e pelo que percebi ele havia cuspido um pouco de sangue ou estava ferido,
mas não conseguia ter certeza, pois ele estava de costas para o chão e com um capuz
que cobria todo seu rosto e só podia ver a mancha de sangue que se espelhava
pelo chão.
Pela forma que falava ele não era um camponês, mas jamais iria imaginar ter aquela pessoa caída no chão gelado de
minha forja, coberto de sangue e quase morrendo.
- Pela rainha, o que você esta fazendo
aqui? – Disse espantado ao vira-lo e ter seu rosto revelado por um raio que
caiu a poucos metros da minha porta, iluminado todo o lugar. Em meus braços
estava o maior general de todo o reino, Augusto Van Daibergerg, o lobo negro.
Um rosnado ecoou pelo aposento e
quando olhei para a porta, seu lobo negro entrou rosnando enquanto molhava meu
chão de água e sangue.
- Tudo bem Sombra, ele não vai... –
Augusto desmaiou enquanto tentava terminar sua frase, mas para minha sorte seu
lobo pareceu entender e sentou-se emitindo um som que podia jurar ser de choro.
Minha mente estava confusa, não sabia
se me ocupava em ajuda-lo, se me preocupava com aquela enorme fera sentada a
poucos metros de distancia ou se tentava entender o que estava acontecendo. Por
fim, consegui retirar sua armadura, despi-lo e coloca-lo em minha cama, quando
notei uma seta de um flecha em sua barriga, com a haste quebrada.
Seu lobo se aproximou enquanto eu
removia a flecha cuidadosamente, por sorte ela não entrou fundo na carne e pude
remove-la, mas pelo jeito ele estava com ela a alguns dias e seu corpo estava
quente como brasa. Por alguns segundos fiquei com medo que ele fosse me atacar
por estar mexendo em seu dono, mas Sombra ficou quieto lambendo suas próprias feridas e chorando.
Tentei limpar o ferimento da melhor
forma que pude enquanto pensava no que fazer a seguir e quando me dei conta, já
estava amanhecendo.
Não muito depois do sol nascer, ouvi o
barulho de alguém batendo em minha porta de forma agressiva e soube que nada de
bom podia vir disso. Peguei o meu martelo de forja e abri a porta pronto para o
pior. Do outro lado, haviam três cavaleiros trajando armadura completa, porem
muito danificada e ainda suja, o que indicava que eles haviam lutado a pouco
tempo.
- Ferreiro – disse um deles, apesar de
não conseguir ver seu rosto, pois todos estavam com seus elmos fechados – Nos
estamos procurando um homem, um fugitivo, por uma caso não viu ninguém suspeito
ou ferido por aqui?
- Sempre existem pessoas suspeitas
andando por aqui, mas não me lembro de nenhum ferido – menti, entendendo um
pouco melhor o porquê de um dos maiores homens de todo o reino ter caído quase morto
em minha forja.
- Neste caso, o senhor não se
importaria que olhássemos o lugar? – falou o mesmo homem.
- Não há nada ali dentro alem de metal
e armas velhas, é melhor irem ate o vilarejo.
- Se realmente não há nada a esconder,
então não vai se importar se olharmos, não é?
- Não é a primeira vez que nobres vem
roubar minhas coisas com a desculpa de estarem procurando alguém, não vou
deixar que entrem.
- Eu acho que você não esta entendo a
situação, se recusar, vamos ter que entrar a força e não posso garantir sua
segurança – disse o mesmo homem e seus colegas levaram as mãos ate o punho de
suas espadas.
- Não pretendia tomar partido na
guerra das duas rainhas, mas também não tinha intenção de entregar aquele
homem para eles, por isso arrebentei com
a cabeça daquele cavaleiro usando meu martelo.
Por sorte eles não estavam realmente
esperando que um ferreiro resistisse a três soldados armados, trajando armadura
completa e por isso eles ficaram parados tetando entender o que havia
acontecido. E uma sorte maior foi a de que suas armaduras não lhes davam
proteção contra meu martelo e eu pude arrebentar a cabeça do segundo antes que
o terceiro acordasse do transe e me atacasse com sua espada de duas mãos.
Tentei me defender com o martelo, mas
a força do golpe me jogou para trás e cai para dentro da forja, fazendo com que
o lobo de Augusto ficasse pronto para atacar qualquer um que entrasse pela
porta. O que foi minha terceira sorte naquela manha, pois quando o homem entrou
certo de sua vitoria, foi surpreendido por uma fera que em um pulo o jogou para
o chão e para seu azar seu elmo se soltou e a fera pode destroçar sua garganta.
Me sentei no chão gelado tentando me
recuperar de tudo o que havia acontecido, não foi a primeira vez que matei um
homem e algo me dizia que não seria a ultima, mas não conseguia me acostumar
com a sensação de de tomar uma vida e com meu coração batendo freneticamente
em meu peito.
- Obrigado – disse a mesma voz fraca
que ouvi na noite anterior e notei que ele estava acordado – Você lutou por mim
quando podia ter me entregado e por isso lhe sou grato.
- Não fiz nada de mais, você devia
estar descansado ao invés de falar.
- Você fez mais do que imagina – ele
estendeu sua mão para seu lobo lamber e de certa forma aquela cena me enjoou,
pois a boca da fera estava coberta de sangue – Qual seu nome ferreiro?
- Ulthred senhor.
-Ulthred? Eu lhe devo minha vida
Ulthred e a coroa lhe deve o futuro desta guerra.
- Perdão?
- Não posso lhe explicar, mas você fez
um grande serviço hoje – e ele desmaiou novamente me deixando mais confuso do
que antes. Mas naquele dia eu tive a certeza de que acabei me envolvendo em
algo maior do que podia imaginar e na manha seguinte parti com ele rumo ao
castelo.
De encontro a rainha e a uma decisão
que mudaria o futuro de todo o reino.
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