quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Profecia do fim dos tempos.

“Nas sombras um exercito se formara e cobrirá a terra com morte e sangue.
Em sua marcha não haverá gloria ou honra aos mortos.
Quando aquele que morrer retornar a este mundo
Peguem suas armas, beijem seus filhos e se despeçam de suas mulheres.
Pois é chegada a hora de lutarem em meu nome.
E morrer por tudo o que acreditam.”
                                                                                   - Profecia de um velho skald.


sábado, 23 de novembro de 2013

Um Conto de Sangue e Ouro - Previa

Obs. Não contem todo o capitulo.

Capítulo I: Júbilo mortal


Havia mais pessoas naquele salão do que eu imaginava. Alguns poucos nobres cavaleiros e seus escudeiros provavelmente em busca de uma chance de provar sua habilidade e valor em combate e com isso fazerem seus nomes percorrerem todo o reino, no entanto a maioria deles não passava de mercenários, alguns profissionais em busca de ouro e outros onde provavelmente eu me encaixava, de pessoas comuns que vieram a este lugar por necessidade ou pela promessa de ouro fácil. Porém, como dizia meu falecido pai, onde há ouro existe problema...

Ao todo devíamos totalizar cerca de trezentas cabeças, mas duvidava que isso servisse para alguma coisa em um combate real ou que todos não sairiam correndo ao menor sinal de perigo. Ainda assim, todos tentavam demonstrar coragem, narrando combates que provavelmente jamais ocorreram ou aventuras épicas que mais pareciam histórias para crianças dormirem. Conforme as aventuras eram mencionadas, vozes tomavam conta do lugar não havendo demora para que, com a chegada de mais pessoas, mais histórias épicas fossem contadas a ponto de ficar quase impossível distinguir uma palavra sequer que fosse dita naquele lugar que agora mal podia comportar todos que estavam ali, devido seu tamanho.

Aquele era provavelmente um salão usado para jantares e nada mais do que isso, suas paredes eram simples, feitas de pedras. Candelabros negros, suportando velas, em todos os cantos concediam ao lugar um toque quase sobrenatural. Os móveis tinham sido retirados de forma que houvesse espaço para comportar o número de pessoas que viriam ali naquela tarde. Havia também um pequeno palco improvisado onde estava sentado um homem gordo e pequeno, de aproximadamente sessenta anos. Saliva e restos de comida caíam de sua boca conforme ele abocanhava coxas de frango, como um animal faminto que não se alimentava há uma semana.

Ao seu lado estavam duas jovens seminuas, de aproximadamente quinze anos. Uma delas era alta e ruiva, com olhos vazios e parecia não ter qualquer emoção, pois sua expressão nunca mudava enquanto ela enchia repetidamente a taça de vinho daquele homem. A outra jovem era de baixa estatura e muito bonita, tinha longos cabelos loiros que caíam até sua cintura e demonstrava clara aversão por estar ali. As duas serviam seu senhor obedientemente, fazendo tudo o que lhes era pedido. Penso que faziam, também, mais do que aquilo.

Havia também outro homem, ao lado do velho. Alto e magro, usava seu cabelo negro para trás com algum tipo de óleo e estava apoiado em uma bengala de madeira.

- Senhores, creio que não há porque adiar nossos negócios – falou o homem com uma voz seca enquanto batia sua bengala no chão tentando chamar a atenção para si.

Murmúrios demonstravam que todos ali concordavam e estavam ansiosos para ouvir a proposta de emprego que lhes era oferecida. Um homem ao meu lado diz que aquele seria um cargo fácil, aquele senhor sempre pagava altas quantias de dinheiro e que todos estariam se afogando em cerveja ao cair da noite.

 - Os negócios de meu senhor têm sofrido com constantes ataques em sua rota comercial ao leste, não sabemos ao certo por quem cometidos, já que os contos diferem sobre ladrões ou grupos de selvagens que podem ter se instalado na região– a menção dos selvagens, ou bárbaros como eram conhecidos mais comumente, havia causado certo desconforto nos que estavam presentes e parecia que muitos deles haviam desistido do serviço antes mesmo de ouvir a proposta – Para tanto, nós queremos contratar suas espadas para escoltar uma caravana comercial que partirá em três noites rumo a capital.

A ideia de enfrentar hordas bárbaras havia desanimado muitos dos presentes que não fizeram cerimônia em retirar-se do local, no entanto ninguém poderia culpá-los por suas covardias. Os povos bárbaros, como eram conhecidos, eram um povo vindo das terras do leste, um local sem leis ou assim acreditava-se, pois ninguém de fato havia ido até lá e retornado para relatar, mas ninguém poderia questionar a voracidade em batalha daqueles homens. Muitos foram os confrontos contra esses povos e poucos que obtiveram resultados de vitórias dignas dos contos que os bardos amavam não que isso os impedisse de compor eles. Enfrentar um bárbaro em combate era quase como enfrentar a morte em pessoa, poucos podiam fazê-lo.

 - Vejo que alguns de vocês não são covardes – disse o homem aos que ainda estavam no salão, zombando daqueles que haviam se retirado – Saibam que cada um de vocês será recompensando com cinco moedas de prata e vinte de cobre e a recompensa dos que não sobreviverem será divida entre os demais.

Não era uma oferta fácil de se recusar, ao menos do meu ponto de vista. A quantia era significativa mesmo sem o adicional e obviamente muitos iriam morrer no meio do caminho. Era fácil identificar o pensamento de todos que ali estavam. Se o medo da morte havia os instigado a abandonar o serviço, o som das moedas sendo colocadas no chão, expostas em um grande baú, trouxe nova confiança e poucos se retiraram.

Há um ditado de onde venho, “Dê uma moeda de ouro a um pobre covarde e terá um soldado corajoso” o que era verdade, porém todos se esqueciam de colocar o adjetivo ignorante no final da frase. E agora eu não era diferente deles, talvez até fosse o mais tolo naquele lugar.

 - Peço que os interessados descansem ate o dia da partida – disse o homem como se estivesse terminando seu discurso - Vocês podem armar suas barracas no jardim e ao redor do castelo.
 - E quanto a nós? – disse um dos cavaleiros, não sabia dizer qual – Espera que nos instalemos junto a esses homens? Somos nobres e merecemos tratamento como tais – odiava esse discurso usado pela nobreza, que tentava sempre se colocar em um nível superior e rebaixar aqueles que não eram seus iguais.

- Seus aposentos já foram providenciados. Meu senhor deseja que tenham a melhor estadia enquanto estiverem sob seu teto.

 Aquilo pareceu ter agradado aos cavaleiros que não seguraram o menosprezo para com os demais que, por sua vez, pareciam não ter se importado com as risadas e insultos, talvez por já esperarem algo do tipo ou estarem acostumados.

 - Esses desgraçados são os mais infelizes por aqui – disse um homem que aparentava ter quarenta anos, com o rosto coberto por um longo cabelo loiro e que terminava em uma barba igualmente longa.

 - Por quê? – perguntei curioso com o comentário e recebi um olhar de perplexidade de volta.

 - Você é novo não é? Logo notei – falou o homem pensativo – Veja o emblema que eles carregam, um leão sobre uma rocha, aquele é o símbolo do lorde Ricardo.

 - E? – perguntei não entendendo.

 - E provavelmente este porco gordo pediu ajuda a Ricardo que mandou esses infelizes a fim de proteger suas carroças de mercadoria – respondeu o homem me encarando – Diferente da gente, esses caras não tem escolha.

 Não havia pensado nisto antes, mas aquele homem tinha razão, ao menos nós mercenários poderíamos escolher se aceitaríamos o trabalho ou não, aqueles homens, por servirem seu reino, não possuíam esta escolha e quase tive pena deles por isso e então me lembrei de como eles nos tratavam.

 - Sorte sua. Por ser apenas um ferreiro, não terá que lutar no campo de batalha conosco – disse o homem ao olhar meu martelo de forja e sabia que não passava de uma piada pelo tom de sua voz.

 - Sou um mercenário.

 - E já matou alguém antes?

 - Já – menti e sabia que ele havia percebido.

 - Quantos?

 - Não me lembro.

 - Sei – e com uma risada ele bateu em meu ombro antes de se retirar com os demais.

 A verdade era que nunca havia matado um homem antes, nem ao menos havia estado em um combate real. Minha pouca experiência em combate vinha de brigas entre garotos e das poucas vezes que meu pai resolveu me testar, o que não valia de muita coisa já que ele era um ferreiro. Seria loucura topar o trabalho, de certa seria morto antes mesmo de conseguir revidar e acho que a loucura havia me encontrado, pois estava decidido a aceitar a oferta. Mas que escolha eu tinha? Precisava de dinheiro e teria que arriscar.

Quando me dei conta, quase todos haviam deixado o local, nem mesmo o “porco” estava lá comendo seus pedaços de frangos nojentos. No entanto preferi ficar ali por algum tempo, aproveitando o silêncio para pensar no que iria fazer. Tinha cerca de dois dias para treinar um pouco e duvidava que acharia alguém disposto.

Encostei-me sobre uma das janelas e senti o vento tocar meus cabelos. Era uma bela manhã, o céu estava límpido e os primeiros raios de sol surgiam. Fiquei algum tempo parado naquele lugar observando os homens arrumarem suas tendas ou improvisando um local para ficarem. Dois homens disputavam a sombra de uma árvore e quase se mataram por ela, terminando apenas com um deles ferido.


 Apertei com força o meu martelo. Era uma arma grosseira, de forja com um cabo maior do que o comum, não era de fato uma arma de guerra. No entanto gostava da sensação de tê-lo por perto, cresci moldando o metal eles então se fosse para o campo de batalha, morreria com um em mãos.

Obs. Não contem todo o capitulo.

A amante da guerra – Parte II

A queda da besta

Foi ao cair noite que meu pai e os outros voltaram da caça e fiquei ao mesmo tempo triste e com raiva ao ter tentado imaginar o que eles iriam pensar quando vissem a tribo completamente dizimada, as mulheres jogadas ao chão depois de tudo o que sofreram, mas pensava principalmente no que meu pai teria sentido quando me viu acorrentada a um troco, completamente despida e envergonhada.

No começo, boa parte dos homens ficaram de guarda enquanto outros se satisfaziam, mas com o passar das horas e sem sinal de meu pai e dos outros, a maioria começou a relaxar e se embebedar. Quando me dei conta, quase todos estavam desmaiados, brigando entre si e alguns poucos, o que incluía o líder daquele bando, o qual agora conhecia pelo nome de cara de cicatriz, estavam de guarda.

- Espero que seu pai chegue logo, estou cansado de esperar – ele falou com aquele halito horroroso de um homem que não se cuidava enquanto apertava meu rosto.

- Ele vai e você vai morrer cretino – mas apesar de minhas palavras serem duras, desejava que meu pai não voltasse pois tinha um péssimo pressentimento que estava me assolando desde que fui posta naquele tronco para ser envergonhada.

Por isso mesmo quando ouvi seu grito de guerra e o som de homens furiosos correndo, um misto de dor e esperança se somou em meu peito.

- Pai! – gritei quando o vi se aproximar e partir a cabeça de um homem com sua espada e matar outros dois que entraram em seu caminho. Quando ele e dois de seus homens estavam a cerca de vinte passos de minha pequena prisão, cara de cicatriz e quatro dos seus barraram seu caminho. Os dois homens do meu pai se esforçaram para lutar contra os quatro dele e morreram com honra ao levar três para o outro mundo.

- Olhe bem garota, enquanto mato seu pai diante dos seus olhos – gritou cara de cicatriz e meu pai rugiu como um fera enquanto seus olhos iam dele ate mim.

- Maldito, eu vou te mandar para o outro mundo e os deuses vão te fazer pagar pelo que fez a ela – com aquelas palavras meu pai avançou como uma fera e suas armas se encontraram, mas o machado de seu oponente era uma arma grosseira e mais potente que sua espada que se quebrou com o choque.

- Há esse é o lendário matador de bestas? Não passa de um fraco com um brinquedo nas mãos.

- Maldito – eu vou arrancar teu coração com minhas mãos e oferecer aos deuses.

- Um homem morto não pode fazer ameaças – e meu coração se encheu de um vazio quando vi o machado descer e cortar ao meio a cabeça do meu pai – Um brinde ao grande matador de bestas que morreu como um cão no deserto!

Os homens de Cara de cicatriz riram enquanto viam o machado coberto de sangue ser erguido em sinal de vitoria e mais uma vez vi o resto de minha tribo ser dizimada diante dos meus olhos e o sangue de seus corpos pintarem o chão.

- Agora você é minha  - ele falou enquanto me erguia pelos cabelos ao máximo que as correntes me permitiam ser erguida.

Naquela hora eu vi toda a minha vida se acabar, já não havia ninguém que amava ou compartilhava uma historia vivo, todos os que conhecia haviam perecido em um único dia, exceto algumas mulheres que compartilhavam comigo um destino que até então havia sido adiado pelo puro prazer daquele homem, mas que agora se concretizaria e poria um fim em tudo o que eu fui.

E então ele me arrastou para dentro da tenda de meu pai, enquanto olhava os homens que haviam sobrevivido rirem do meu destino, e enquanto as poucas mulheres que ainda tinha forças para me olhar, diziam de forma silenciosa que estavam desesperadas e entendiam minha dor. Quando fui jogada para dentro da tenda, longe dos olhares de seus homens, ele esmurrou meu rosto com tanta raiva que  não entendi o que estava acontecendo.

- Fique quieta no seu canto vadia – ele gritou e me bateu novamente, depois pegou uma caneca de cerveja, bebeu um largo gole antes de joga-la no chão irritado e se jogar nas peles de meu pai.

Fiquei olhando-o confusa enquanto ele me encarava com tamanho ódio nos olhos, sem entender o motivo de sua raiva e o porquê dele não ter feito nada além de ter-me golpeado, quando finalmente um pensamento me ocorreu. Ele era impotente e não poderia me fazer mal algum.

Não pude esconder o sorriso quando pensei naquilo e acredito que estava certa, pois ele se levantou e me deu outro murro que me fez cuspir sangue, mas eu não me importei com seus maltrato ou com a dor, pois em meio ao sofrimento eu tive certeza de uma coisa.

Que havia esperança e logo eu castraria aquele maldito impotente.




terça-feira, 19 de novembro de 2013

Instrumentos da morte – Parte II

Uma noite de morte

Aquela devia ter sido a pior viagem de minha vida. O simples fato de estar junto com um dos homens mais poderosos de todo o reino e no momento um dos mais procurados também dependendo do lado em que se estivesse na guerra tornava cada segundo uma experiencia aterrorizante, era impossível saber o que iria acontecer, qualquer pessoa poderia ser um inimigo e um inimigo significava encarar a morte.

E infelizmente eu ainda precisava tomar cuidado com Augusto, escondido na parte traseira da coroça, coberto por feno e equipamentos diversos que trouxe comigo. Seus ferimentos não eram graves mas o deixaram debilitado por alguns dias e como não havia um medico que pudesse confiar na época, ele demorou para se curar, fazendo daquela uma viagem longa, assustadora e tediosa.

Ah e não podia me esquecer que seu lobo caminhava ao nosso lado por toda a viagem o que chamava a atenção de qualquer um que cruzasse nosso caminho.

- Você tem sido muito bom comigo – disse Augusto quando havíamos acampado no meio da mata, já próximos de nosso destino.

- Não precisa me agradecer – e realmente não precisava, eu estava fazendo aquilo por boa vontade, apesar de nunca entender porque havia me envolvido nisso, talvez fosse pelo fato dele ser quem fosse. Havia algo nele que atraia as pessoas.

- Ainda vou te recompensar pelo que fez por mim e por todo o reino.

- Obrigado – falei sem saber o que responder.

Aquilo era estranho, a alguns dias eu estava quieto em minha forja, criando armas para serem usadas em uma guerra que eu jamais imaginei tomar parte, exceto fabricando tudo o que fosse necessário para que ela continuasse e agora estava no meio da mata, com Augusto ferido sobre meus cuidados e rumo a um encontro com a rainha. E aquela era a parte mais assustadora de todas.

Naquela época fazia dois anos que aquela porcaria de guerra havia começado e não podia reclamar disso, uma guerra era uma porcaria que acabava com um reino, uma interna então era algo catastrófico mas era bom para pessoas como eu, que podiam lucrar com isso. O problema era o motivo que levou o reino a se dividir em um mar de sangue.

Amanda assumiu o trono com a morte de seu pai. O falecido rei não tinha nenhum herdeiro que pudesse assumir o trono exceto suas duas filhas gêmeas e obviamente a mais velha assumiu a posição de rainha. Para a infelicidade de todos ela era louca e sádica se todos os rumores estavam certos e em seu poder o reino se transformou em um pesadelo, haviam leis mais restritas e sem sentido, havia tortura em publico e coisas que preferia não lembrar.

Não demorou para que uma revolta civil tomasse conta do reino. Com o descontentamento muitos nobres e boa parte do exercito começou a apoiar Julliet a irmã mais nova e uma pessoa amável como fui descobrir.

E eu estava indo me juntar a pior delas.

Eclipse, o lobo negro de Augusto que ate então parecia estar dormindo se levantou e começou a rosnar. Augusto estava setado encostado na carroça e olhou para a direção que o lobo encarava, levando o punho ate o cabo de sua espada apesar de não estar em condições de lutar. Segurei uma espada que havia trazido comigo para a viagem e me levantei.

- Algum animal talvez?

- Não, Eclipse é bem treinado... Melhor se preparar.

Uma seta cortou um pouco do meu cabelo e um filete de sangue quando raspou em minha orelha esquerda e bateu na carroça, próximo a Augusto. Com o ataque Eclipse sumiu pela floresta e alguns segundos depois um grito ecoou pela escuridão e três homens saíram do meio da mata vestido com trapos e empunhando armas velhas.

- bandidos – falei baixinho quando o mais rápido me alcançou e aparei o golpe de sua espada, chutando sua virilha o que o fez envergar para frente e facilitar que minha lamina entrasse em seu abdômen. O segundo, que tinha o tamanho de um urso e era tão peludo quanto correu em direção a Augusto, certo de que conseguiria mata-lo sem esforço enquanto seu colega lutava comigo.

Como se a fera tivesse algum tipo de ligação com seu dono, Eclipse surgiu novamente e saltou de encontro do homem, mordendo seu pescoço e o jogando no chão que foi imundando de sangue enquanto o lobo estraçalhava-lhe a garganta. A cena nojenta fez com que o ultimo dos bandidos se mijasse e ficasse parado tremendo.

- Misericórdia – ele disse caindo de joelho no próprio mijo.

- O que eu faço com ele – falei colando a lamina de minha espada em sua garganta.

- Mate-o, essa escoria não merece viver.

O homem tentou falar algo mas abri sua garganta e o corpo caiu duro no chão. Olhei para o corpo e depois para o lobo que se alimentava do homem urso.

- Não vou me acostumar com isso.

- Fica fácil com o tempo – ele sempre falava da morte como algo fácil de se lidar, mas ao mesmo tempo era um homem que valorizava a vida, em especial a de seus companheiros de guerra como fui descobrir algum tempo depois.

Afinal, eu ainda iria matar muitas pessoas sobre o seu comando.



domingo, 17 de novembro de 2013

Profecias do Ultimo Dia – Parte I

O Herdeiro e o Mensageiro

Havia participado daqueles ritos por tantas vezes que minha memoria havia se esquecido do numero e ainda assim não conseguia me acostumar em ter que cortar a palma de minha mão e deixar o sangue escorrer para uma pira de fogo que exaltava um fedor insuportável. Quando as primeiras gotas caíram na pira o fogo cresceu como se alimentado pela energia vital contida em meu sangue e dançou como se tivesse tomado vida própria.

E não conseguia ver nada.

- Não se preocupe jovem mestre – disse um dos mais velhos de nossa ordem e encarregado daqueles rituais – Leva-se muito tempo para poder ver o que existe dentro das chamas, o futuro não é revelado antes que a pessoa se torne digna de vê-lo.

- Como posso herdar a ordem se não consigo exercer os meus deveres? Odeio duvidar das palavras de nosso Abençoado Val the’l, mas não vejo porque deveria suceder seu trono. Dorum não me ama.

- Dorum ama a todos - repreendeu o mestre dos rituais – Mas tudo tem seu tempo.

Apertei meu punho cortado e joguei mais sangue dentro da pira e tudo o que consegui foi perder mais do meu precioso sangue.

As portas da câmera de rituais foram abertas e um jovem invadiu o aposento apreçado.

- Jovem mestre, mestre dos rituais – ele abaixou a cabeça em comprimento e quando o mestre dos rituais sinalizou para ele se erguer, o jovem ofegante me encarou – Nossa excelência o Abençoado requer sua presença, com urgência.

Sai sem deixar que os dois falassem qualquer coisa, estava a tempos na ordem e mesmo sendo escolhido para sucede-la, não conseguia me acostumar com a forma ridícula que todos se comportavam. Odiava os títulos, odiava a educação exagerada e forma pomposa que todos fingiam falar.

Passei pelos corredores de mármore branco que ligavam a câmera dos rituais ao salão principal. No caminho haviam muitos acólitos e mestres da ordem, mas nenhum deles ousou falar comigo pois meu ódio e raiva estavam estampados em meu rosto, por isso eles se contentavam em me reverenciar e ficar calados.

O salão estava quase vazio, o que era raro. Era comum ver dezenas de acólitos perguntando a Val sobre os segredos de nossa fé, sobre o mundo e sobre Dorun ou sua esposa Elf’el.

- Orl’har Mai Dorum – falei como era o costume ao ficar na presença daquele homem. Dizíamos aquela frase para quase tudo.

- Orl’har Mai Dorum – respondeu Val que me encarava com um olhar preocupado e isso era algo raro de se presenciar.

Val estava sentado em seu trono de ouro, trajando suas vestes brancas e simples. Mesmo sendo nosso líder, ele abdicou de qualquer luxo e se vestia como qualquer acolito. Uma batina branca e uma corda preta amarrada a cintura.

Ao seu lado estavam dois homens, que alem da batina vestiam uma túnica e algumas pedras preciosas presas ao seu cinto, que indicavam seu status dentro da ordem. Eram Carmiron e Jaspiron, irmãos gêmeos que cresceram dentro da ordem e ascenderam ao conselho dos dez, um grupo seleto que cuidava da ordem em nome de Val.

- Abistam – falou Val e sua voz denunciava sua preocupação e isso me incomodava – Dorum me enviou um sinal, uma mensagem triste e preocupante.

Fiquei em silencio encarando-o e imaginando o que poderia ter deixado-o naquele estado.

- Uma grande sombra paira sobre o mundo e a luz de Dorum esta sendo coberta por ela. Uma guerra de proporções nunca antes vistas vai cobrir o mundo dentro de pouco tempo e temo pelo que possa acontecer.

O mundo sempre estava coberto por um sombra e o mundo sempre estava em guerra, cada uma sempre maior que a outra. Para mim isso não passava de exagero.

- Tenho sonhado com minha morte, com a morte de nossos irmãos e com a queda de nossa fé. Tenho visto nas chamas um homem, mas sua imagem é confusa e não sei quem é ou seu papel nesses eventos – ele respirou profundamente procurando as palavras para continuar – Os tempos estão acabando e você ira assumir o trono em breve, pois meu tempo é curto neste mundo.

- Você ainda vivera por muitos anos – falei sem esconder minha descrença com o que estava ouvindo e enquanto os dois anciões desejavam me repreender, Val apenas suspirou como um pai que vê um filho cometendo um erro e sabe que esse mesmo erro é que deve ensina-lo sobre o que é correto.

- Abistam, você sempre foi mais rebelde e o mais descrente de todos os que já passaram por essa ordem, mas existe bondade em seu coração e sinto que Dorum te abençoou mais do que qualquer um de nós. Você ainda vai entender – Val fez um sinal para os dois, que pegaram uma caixa posta sobre a mesa perto do trono. Carmiron retirou uma espada de dentro da caixa e a entregou a mim após se ajoelhar na minha frente – Esta é a sagrada espada de nossa ordem, a arma dada a nosso fundador pelo próprio Dorum para que ele lutasse com as trevas quando a hora chegasse. Ela é sua.

Fiquei inquieto enquanto segurava o cabo da espada, podia sentir a energia que emanava daquela lamina e tinha certeza de que ela não era desse mundo. A espada tinha uma cor branca como leite e as vezes parecia emanar uma aura dourada. Sua guarda e seu punho eram feitos de ouro e havia uma âmbar vermelha no pomo em forma de grifo.

- Com minha morte eu lhe deixarei uma ultima missão, caminhe pela terra, converta os infiéis e forme o maior exercito já visto, o exercito de nosso senhor que carregara sua luz e banira o mal que recai sobre esse mundo. Você tem a maior missão dada a um de nos, de unir os povos e derrotar nossos inimigos.

- Eu... – Não conseguia encontrar as palavras certas para descrever o que estava sentido e pensando sobre tudo aquilo, ao mesmo tempo que me parecia uma loucura de um velho senil, sentia o peso do destino sobre minhas costas – Não sei se posso.

- Você pode, só você pode. Quando eu morrer, você partira com um grupo seleto de meus melhores homens e começara sua cruzada. O tempo é curto.

Com aquelas palavras, ele fez um sinal para que o deixasse a só. Levei a espada para meus aposentos pensando sobre tudo o que havia acontecido e encantando com o poder que sentia ao lutar contra um inimigo imaginário.

Passei a noite meditando em frente a chama de minha lareira e quando o dia havia chegado, o sino de nossa ordem havia soado e eu soube antes de qualquer um me dizer que Val havia falecido e descansava no Hall das  mil almas.


Querendo ou não, minha cruzada havia começado.

Instrumentos da morte – Parte I


Metal e Sangue

Era uma noite como qualquer outra daquela época do ano, escura e úmida, onde não se podia encontrar qualquer alma viva aquela hora da noite. O que a tornava perfeita para moldar o aço e dar a vida a novas armas.

Não gostava de ter contato com as outras pessoas do vilarejo, sempre fui um homem de poucos amigos e por isso preferia trabalhar na calada da noite, com a lua como minha única companheira.

Construí minha casa e minha forja em um local um pouco mais afastado do que o resto do vilarejo, dessa forma não incomodaria ninguém durante a noite e poderia trabalhar em paz. O que era perfeito naquela ocasião, pois estava forjando uma nova espada e se tudo ocorresse como esperado, se tornaria minha obra prima.

Ouvi o som da lamina quente chiando quando colocada em água fria que se misturou aos raios, me impedindo de ouvir o som da batida em minha porta. Foi somente quando ela se abriu e um homem caiu para dentro dos aposentos que me dei conta que havia alguém ali.

- Mas o que?

- Ajude-me – disse o homem com uma voz fraca e pelo que percebi ele havia cuspido um pouco de sangue ou estava ferido, mas não conseguia ter certeza, pois ele estava de costas para o chão e com um capuz que cobria todo seu rosto e só podia ver a mancha de sangue que se espelhava pelo chão.

Pela forma que falava ele não era um camponês, mas jamais iria imaginar ter aquela pessoa caída no chão gelado de minha forja, coberto de sangue e quase morrendo.

- Pela rainha, o que você esta fazendo aqui? – Disse espantado ao vira-lo e ter seu rosto revelado por um raio que caiu a poucos metros da minha porta, iluminado todo o lugar. Em meus braços estava o maior general de todo o reino, Augusto Van Daibergerg, o lobo negro.
Um rosnado ecoou pelo aposento e quando olhei para a porta, seu lobo negro entrou rosnando enquanto molhava meu chão de água e sangue.

- Tudo bem Sombra, ele não vai... – Augusto desmaiou enquanto tentava terminar sua frase, mas para minha sorte seu lobo pareceu entender e sentou-se emitindo um som que podia jurar ser de choro.

Minha mente estava confusa, não sabia se me ocupava em ajuda-lo, se me preocupava com aquela enorme fera sentada a poucos metros de distancia ou se tentava entender o que estava acontecendo. Por fim, consegui retirar sua armadura, despi-lo e coloca-lo em minha cama, quando notei uma seta de um flecha em sua barriga, com a haste quebrada.

Seu lobo se aproximou enquanto eu removia a flecha cuidadosamente, por sorte ela não entrou fundo na carne e pude remove-la, mas pelo jeito ele estava com ela a alguns dias e seu corpo estava quente como brasa. Por alguns segundos fiquei com medo que ele fosse me atacar por estar mexendo em seu dono, mas Sombra ficou quieto lambendo suas próprias feridas e chorando.

Tentei limpar o ferimento da melhor forma que pude enquanto pensava no que fazer a seguir e quando me dei conta, já estava amanhecendo.

Não muito depois do sol nascer, ouvi o barulho de alguém batendo em minha porta de forma agressiva e soube que nada de bom podia vir disso. Peguei o meu martelo de forja e abri a porta pronto para o pior. Do outro lado, haviam três cavaleiros trajando armadura completa, porem muito danificada e ainda suja, o que indicava que eles haviam lutado a pouco tempo.

- Ferreiro – disse um deles, apesar de não conseguir ver seu rosto, pois todos estavam com seus elmos fechados – Nos estamos procurando um homem, um fugitivo, por uma caso não viu ninguém suspeito ou ferido por aqui?

- Sempre existem pessoas suspeitas andando por aqui, mas não me lembro de nenhum ferido – menti, entendendo um pouco melhor o porquê de um dos maiores homens de todo o reino ter caído quase morto em minha forja.

- Neste caso, o senhor não se importaria que olhássemos o lugar? – falou o mesmo homem.

- Não há nada ali dentro alem de metal e armas velhas, é melhor irem ate o vilarejo.

- Se realmente não há nada a esconder, então não vai se importar se olharmos, não é?

- Não é a primeira vez que nobres vem roubar minhas coisas com a desculpa de estarem procurando alguém, não vou deixar que entrem.

- Eu acho que você não esta entendo a situação, se recusar, vamos ter que entrar a força e não posso garantir sua segurança – disse o mesmo homem e seus colegas levaram as mãos ate o punho de suas espadas.

- Não pretendia tomar partido na guerra das duas rainhas, mas também não tinha intenção de entregar aquele homem  para eles, por isso arrebentei com a cabeça daquele cavaleiro usando meu martelo.

Por sorte eles não estavam realmente esperando que um ferreiro resistisse a três soldados armados, trajando armadura completa e por isso eles ficaram parados tetando entender o que havia acontecido. E uma sorte maior foi a de que suas armaduras não lhes davam proteção contra meu martelo e eu pude arrebentar a cabeça do segundo antes que o terceiro acordasse do transe e me atacasse com sua espada de duas mãos.

Tentei me defender com o martelo, mas a força do golpe me jogou para trás e cai para dentro da forja, fazendo com que o lobo de Augusto ficasse pronto para atacar qualquer um que entrasse pela porta. O que foi minha terceira sorte naquela manha, pois quando o homem entrou certo de sua vitoria, foi surpreendido por uma fera que em um pulo o jogou para o chão e para seu azar seu elmo se soltou e a fera pode destroçar sua garganta.

Me sentei no chão gelado tentando me recuperar de tudo o que havia acontecido, não foi a primeira vez que matei um homem e algo me dizia que não seria a ultima, mas não conseguia me acostumar com a sensação de de tomar uma vida e com meu coração batendo freneticamente em meu peito.

- Obrigado – disse a mesma voz fraca que ouvi na noite anterior e notei que ele estava acordado – Você lutou por mim quando podia ter me entregado e por isso lhe sou grato.
- Não fiz nada de mais, você devia estar descansado ao invés de falar.

- Você fez mais do que imagina – ele estendeu sua mão para seu lobo lamber e de certa forma aquela cena me enjoou, pois a boca da fera estava coberta de sangue – Qual seu nome ferreiro?

- Ulthred senhor.

-Ulthred? Eu lhe devo minha vida Ulthred e a coroa lhe deve o futuro desta guerra.

- Perdão?

- Não posso lhe explicar, mas você fez um grande serviço hoje – e ele desmaiou novamente me deixando mais confuso do que antes. Mas naquele dia eu tive a certeza de que acabei me envolvendo em algo maior do que podia imaginar e na manha seguinte parti com ele rumo ao castelo.

De encontro a rainha e a uma decisão que mudaria o futuro de todo o reino.



A amante da guerra - Parte I



                                           Duelo de Kan


Era comum ver as tribos lutando entre si, ver guerreiros derramando sangue desde os grandes desertos que separavam nossas terras dos povos sem fé até as planícies vastas que davam vida ao nosso povo.


Os homens viam os combates intermináveis como uma forma de demonstrar seu valor perante aos olhos dos deuses. Nos ainda lembrávamos dos antigos costumes, do caminho do guerreiro e vivíamos por seu código. Um homem nascia para lutar e morrer com uma arma em mãos, um homem nascia para provar seu valor e morrer com a gloria de mil batalhas em sua mente e seu nome deve ser lembrado para todo o sempre. E morríamos dia a pós dia por essa crença.


Eu cresci com esse povo e desde que me lembro, vi homens nascer para se tornarem temidos no campo de batalha e morrer batalha após batalha. Esse era o costume e dar sua vida em combate era tão comum quanto respirar. O que eu não imaginava, era que aquela batalha mudaria completamente minha vida.


O sol havia nascido e a tribo acordou com o som dos animais e dos pequenos, mas o choro e grunhido logo foram substituídos pela canção da vida em comunidade, o som de rizadas e brigas, de armas sendo afiadas e da preparação para a caça.


Todo homem era um guerreiro, exceto pelos ferreiros, que era considerado como um dever sagrado. Também algumas mulheres guerreiras, nos as chamávamos de noivas da guerra, pois preferiam ter uma espada a um homem ao seu lado, fazendo inclusive um juramento de castidade, apesar de serem poucas que realmente seguiam esse juramento que ninguém sabia de onde havia surgido e que não tinha sentido do meu ponto de vista. 


Meu pai havia me ensinado a lutar e se quisesse poderia ter me tornado uma noiva da guerra, mas nunca quis apesar de ser melhor com uma arma na mão do que muitas das que estavam indo caçar junto aos guerreiros.


- Nos não vamos demorar pequena – disse e meu pai, o líder de nosso Kan que insistia em me chamar de pequena apesar de ser uma mulher em todos os sentidos.


- Que os deuses enviem uma boa caça esta manha meu pai e meu líder. 


- Os deuses nos enviaram uma bela manha, uma boa caça é certa.


- Que assim seja.


E ao dizer aquilo o vi partir com cerca de doze homens e mais oito noivas. Eram poucos, mas eram importantes quando se tratava de um Kan pequeno como nosso, reduzido a menos da metade de seu tamanho com as ultimas disputas. E ver-los partindo, por alguma razão me deu um aperto no peito.


Passei o resto da manha cuidando de meus afazeres: roupas a serem arrumadas, crianças para cuidar e muito a ser organizado. Também gostava de brincar com os mais jovens e de treinar um pouco com os pequenos que treinavam para se tornar adultos. Os jovens guerreiros gostavam de lutar contra mulheres, lhes dava prazer e eu sempre me divertia lutando contra eles e vendo-os ficarem irritados ao perder para uma mulher.


E tinha que agradecer aos deuses por estar com uma arma na mão, pois quando havia derrotado o mais novo dos jovens guerreiros e via os demais rindo dele por ter perdido para uma mulher, o som seco de um chifre de guerra ecoou e quando todos se deram conta, um Kan surgiu da floresta e a planície que nos separava dele foi coberta de homens armados que corriam como loucos para cobrir a distancia que os separava de um combate.


Eramos poucos, cerca de vinte homens e doze noivas, que se preparavam para combater um grupo de aproximadamente oitenta guerreiros. As mulheres que não podiam lutar trataram de pegar os pequenos e se esconder dentro das tendas que todos sabiam que não ofereceriam qualquer tipo de proteção quando eles nos alcançassem.
- Lutem ate o ultimo homem, que os deuses festejem com nossas mortes! – gritou um de nossos guerreiros – E levem o maior numero com vocês para o outro mundo!



Os outros gritaram em aprovação e tudo o que pude pensar era em meu pai. Se ele estivesse entre nós, nos daria coragem e teríamos uma chance de vencer. 


E então eles entraram em nosso acampamento. Armas se chocaram e o sangue manchou o solo. Segurei o cabo de minha espada o mais forte que pude enquanto golpeava o primeiro que tentou me atacar, seu machado cortou o vento de encontro a meu rosto, mas consegui me esquivar do ataque e atravessar seu ventre. 


O segundo foi apenas um garoto que provavelmente havia alcançado a maioridade a apenas alguns dias, conseguido seu lugar ao lado dos adultos e que jamais teria chance de experimentar outro combate, pois abri sua garganta e pude ver o medo em seus olhos enquanto ele tentava segurar a ferida como se pudesse assim salvar sua vida.


Ver aquele garoto lutando e morrendo me lembrou de nossos pequenos guerreiros e larguei o calor do combate para procura-los e tentar ao menos protege-los enquanto ainda houvesse ar meus pulmões. 


- Shara! – Gritou um deles, e quando me virei para a direção de sua voz, vi um grupo de sete garotos, armados em frente a grande tenda de meu pai, onde certamente haviam mulheres e crianças.


- Que bom que estão todos bens – disse ao cair abraçando o mais velho deles, um menino forte e dedicado – Você fez bem em proteger todos.


- Nos estamos perdendo Shara, seu pai e os outros não voltaram! O que vamos fazer?


Vi o medo em seus olhos, afinal mesmo que todos tenham nascido e crescido aprendendo o valor do combate, o valor da gloria na morte em campo de batalha e sendo preparados para esse dia, nenhum homem era imune ao medo da morte e crianças eram apenas crianças, com ou sem uma arma nas mãos.


- Eu vou protege-los, custe o que custar eu vou! – disse tentando parecer segura.


Parecia que havia durado uma eternidade, mas não devia ter passado mais do que alguns minutos desde que o combate começou e todos os guerreiros da tribo estavam mortos, e a única que separava todos da morte ou de serem levados para a outra tribo, era minha espada.


- Onde esta o grande matador de bestas? – disse um homem enorme que usava a pele de um urso como manto e tinha uma grande cicatriz que começava em seu olho esquerdo e descia ate seu abdômen, provavelmente o líder do grupo já que ele mencionou o titulo de meu pai.


- Caçando – respondi cuspindo no chão.


- E quem é você jovem tola?


- Sou a filha dele.


- Bom – ele disse rindo pois filhas de lideres eram vistas como um premio maior do que qualquer outra riqueza conseguida com um saque.


Antes que ele pudesse pensar, avancei com um golpe rápido visando seu coração, mas ele chutou minha barriga com extrema facilidade e a dor me jogou no chão. Foi então que os pequenos tomados pela raiva de me ver no chão atacaram o homem de uma vez.


Foi com lagrimas nos olhos que vi enquanto ele os matava usando um machado do tamanho de um homem, partindo seus corpos como se fossem pedaços de tecido e foi com mais lagrimas que me segurei para não mata-lo enquanto ele me puxava pelo cabelo, cheirando a sangue fresco.


- Agora você vai ficar quietinha.


Os homens se revesaram para aproveitar as mulheres jovens e festejar com nossa comida enquanto esperavam o retorno de meu pai. Por sorte eu fui polpada da vergonha de ser violentada. Infelizmente teria que aguentar ver meu pai e seus companheiros serem mortos por aqueles homens e tudo isso amarrada em um velho tronco de madeira e despida de qualquer roupa. 


E tudo o que eu pude fazer foi aguentar os sons de meu povo sendo destruído, os sons das lagrimas e dos gritos de prazer dos homens enquanto  eu imaginava qual seria meu fim, sem jamais pensar que os eventos daquele dia me fariam encontrar com um homem que mudaria completamente meu destino e o destino de todos que caminhavam por esse mundo.


Pois aquela batalha foi apenas o preludio de uma guerra que estava prestes a engolir o mundo.