sábado, 23 de novembro de 2013

A amante da guerra – Parte II

A queda da besta

Foi ao cair noite que meu pai e os outros voltaram da caça e fiquei ao mesmo tempo triste e com raiva ao ter tentado imaginar o que eles iriam pensar quando vissem a tribo completamente dizimada, as mulheres jogadas ao chão depois de tudo o que sofreram, mas pensava principalmente no que meu pai teria sentido quando me viu acorrentada a um troco, completamente despida e envergonhada.

No começo, boa parte dos homens ficaram de guarda enquanto outros se satisfaziam, mas com o passar das horas e sem sinal de meu pai e dos outros, a maioria começou a relaxar e se embebedar. Quando me dei conta, quase todos estavam desmaiados, brigando entre si e alguns poucos, o que incluía o líder daquele bando, o qual agora conhecia pelo nome de cara de cicatriz, estavam de guarda.

- Espero que seu pai chegue logo, estou cansado de esperar – ele falou com aquele halito horroroso de um homem que não se cuidava enquanto apertava meu rosto.

- Ele vai e você vai morrer cretino – mas apesar de minhas palavras serem duras, desejava que meu pai não voltasse pois tinha um péssimo pressentimento que estava me assolando desde que fui posta naquele tronco para ser envergonhada.

Por isso mesmo quando ouvi seu grito de guerra e o som de homens furiosos correndo, um misto de dor e esperança se somou em meu peito.

- Pai! – gritei quando o vi se aproximar e partir a cabeça de um homem com sua espada e matar outros dois que entraram em seu caminho. Quando ele e dois de seus homens estavam a cerca de vinte passos de minha pequena prisão, cara de cicatriz e quatro dos seus barraram seu caminho. Os dois homens do meu pai se esforçaram para lutar contra os quatro dele e morreram com honra ao levar três para o outro mundo.

- Olhe bem garota, enquanto mato seu pai diante dos seus olhos – gritou cara de cicatriz e meu pai rugiu como um fera enquanto seus olhos iam dele ate mim.

- Maldito, eu vou te mandar para o outro mundo e os deuses vão te fazer pagar pelo que fez a ela – com aquelas palavras meu pai avançou como uma fera e suas armas se encontraram, mas o machado de seu oponente era uma arma grosseira e mais potente que sua espada que se quebrou com o choque.

- Há esse é o lendário matador de bestas? Não passa de um fraco com um brinquedo nas mãos.

- Maldito – eu vou arrancar teu coração com minhas mãos e oferecer aos deuses.

- Um homem morto não pode fazer ameaças – e meu coração se encheu de um vazio quando vi o machado descer e cortar ao meio a cabeça do meu pai – Um brinde ao grande matador de bestas que morreu como um cão no deserto!

Os homens de Cara de cicatriz riram enquanto viam o machado coberto de sangue ser erguido em sinal de vitoria e mais uma vez vi o resto de minha tribo ser dizimada diante dos meus olhos e o sangue de seus corpos pintarem o chão.

- Agora você é minha  - ele falou enquanto me erguia pelos cabelos ao máximo que as correntes me permitiam ser erguida.

Naquela hora eu vi toda a minha vida se acabar, já não havia ninguém que amava ou compartilhava uma historia vivo, todos os que conhecia haviam perecido em um único dia, exceto algumas mulheres que compartilhavam comigo um destino que até então havia sido adiado pelo puro prazer daquele homem, mas que agora se concretizaria e poria um fim em tudo o que eu fui.

E então ele me arrastou para dentro da tenda de meu pai, enquanto olhava os homens que haviam sobrevivido rirem do meu destino, e enquanto as poucas mulheres que ainda tinha forças para me olhar, diziam de forma silenciosa que estavam desesperadas e entendiam minha dor. Quando fui jogada para dentro da tenda, longe dos olhares de seus homens, ele esmurrou meu rosto com tanta raiva que  não entendi o que estava acontecendo.

- Fique quieta no seu canto vadia – ele gritou e me bateu novamente, depois pegou uma caneca de cerveja, bebeu um largo gole antes de joga-la no chão irritado e se jogar nas peles de meu pai.

Fiquei olhando-o confusa enquanto ele me encarava com tamanho ódio nos olhos, sem entender o motivo de sua raiva e o porquê dele não ter feito nada além de ter-me golpeado, quando finalmente um pensamento me ocorreu. Ele era impotente e não poderia me fazer mal algum.

Não pude esconder o sorriso quando pensei naquilo e acredito que estava certa, pois ele se levantou e me deu outro murro que me fez cuspir sangue, mas eu não me importei com seus maltrato ou com a dor, pois em meio ao sofrimento eu tive certeza de uma coisa.

Que havia esperança e logo eu castraria aquele maldito impotente.




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