domingo, 17 de novembro de 2013

Instrumentos da morte – Parte I


Metal e Sangue

Era uma noite como qualquer outra daquela época do ano, escura e úmida, onde não se podia encontrar qualquer alma viva aquela hora da noite. O que a tornava perfeita para moldar o aço e dar a vida a novas armas.

Não gostava de ter contato com as outras pessoas do vilarejo, sempre fui um homem de poucos amigos e por isso preferia trabalhar na calada da noite, com a lua como minha única companheira.

Construí minha casa e minha forja em um local um pouco mais afastado do que o resto do vilarejo, dessa forma não incomodaria ninguém durante a noite e poderia trabalhar em paz. O que era perfeito naquela ocasião, pois estava forjando uma nova espada e se tudo ocorresse como esperado, se tornaria minha obra prima.

Ouvi o som da lamina quente chiando quando colocada em água fria que se misturou aos raios, me impedindo de ouvir o som da batida em minha porta. Foi somente quando ela se abriu e um homem caiu para dentro dos aposentos que me dei conta que havia alguém ali.

- Mas o que?

- Ajude-me – disse o homem com uma voz fraca e pelo que percebi ele havia cuspido um pouco de sangue ou estava ferido, mas não conseguia ter certeza, pois ele estava de costas para o chão e com um capuz que cobria todo seu rosto e só podia ver a mancha de sangue que se espelhava pelo chão.

Pela forma que falava ele não era um camponês, mas jamais iria imaginar ter aquela pessoa caída no chão gelado de minha forja, coberto de sangue e quase morrendo.

- Pela rainha, o que você esta fazendo aqui? – Disse espantado ao vira-lo e ter seu rosto revelado por um raio que caiu a poucos metros da minha porta, iluminado todo o lugar. Em meus braços estava o maior general de todo o reino, Augusto Van Daibergerg, o lobo negro.
Um rosnado ecoou pelo aposento e quando olhei para a porta, seu lobo negro entrou rosnando enquanto molhava meu chão de água e sangue.

- Tudo bem Sombra, ele não vai... – Augusto desmaiou enquanto tentava terminar sua frase, mas para minha sorte seu lobo pareceu entender e sentou-se emitindo um som que podia jurar ser de choro.

Minha mente estava confusa, não sabia se me ocupava em ajuda-lo, se me preocupava com aquela enorme fera sentada a poucos metros de distancia ou se tentava entender o que estava acontecendo. Por fim, consegui retirar sua armadura, despi-lo e coloca-lo em minha cama, quando notei uma seta de um flecha em sua barriga, com a haste quebrada.

Seu lobo se aproximou enquanto eu removia a flecha cuidadosamente, por sorte ela não entrou fundo na carne e pude remove-la, mas pelo jeito ele estava com ela a alguns dias e seu corpo estava quente como brasa. Por alguns segundos fiquei com medo que ele fosse me atacar por estar mexendo em seu dono, mas Sombra ficou quieto lambendo suas próprias feridas e chorando.

Tentei limpar o ferimento da melhor forma que pude enquanto pensava no que fazer a seguir e quando me dei conta, já estava amanhecendo.

Não muito depois do sol nascer, ouvi o barulho de alguém batendo em minha porta de forma agressiva e soube que nada de bom podia vir disso. Peguei o meu martelo de forja e abri a porta pronto para o pior. Do outro lado, haviam três cavaleiros trajando armadura completa, porem muito danificada e ainda suja, o que indicava que eles haviam lutado a pouco tempo.

- Ferreiro – disse um deles, apesar de não conseguir ver seu rosto, pois todos estavam com seus elmos fechados – Nos estamos procurando um homem, um fugitivo, por uma caso não viu ninguém suspeito ou ferido por aqui?

- Sempre existem pessoas suspeitas andando por aqui, mas não me lembro de nenhum ferido – menti, entendendo um pouco melhor o porquê de um dos maiores homens de todo o reino ter caído quase morto em minha forja.

- Neste caso, o senhor não se importaria que olhássemos o lugar? – falou o mesmo homem.

- Não há nada ali dentro alem de metal e armas velhas, é melhor irem ate o vilarejo.

- Se realmente não há nada a esconder, então não vai se importar se olharmos, não é?

- Não é a primeira vez que nobres vem roubar minhas coisas com a desculpa de estarem procurando alguém, não vou deixar que entrem.

- Eu acho que você não esta entendo a situação, se recusar, vamos ter que entrar a força e não posso garantir sua segurança – disse o mesmo homem e seus colegas levaram as mãos ate o punho de suas espadas.

- Não pretendia tomar partido na guerra das duas rainhas, mas também não tinha intenção de entregar aquele homem  para eles, por isso arrebentei com a cabeça daquele cavaleiro usando meu martelo.

Por sorte eles não estavam realmente esperando que um ferreiro resistisse a três soldados armados, trajando armadura completa e por isso eles ficaram parados tetando entender o que havia acontecido. E uma sorte maior foi a de que suas armaduras não lhes davam proteção contra meu martelo e eu pude arrebentar a cabeça do segundo antes que o terceiro acordasse do transe e me atacasse com sua espada de duas mãos.

Tentei me defender com o martelo, mas a força do golpe me jogou para trás e cai para dentro da forja, fazendo com que o lobo de Augusto ficasse pronto para atacar qualquer um que entrasse pela porta. O que foi minha terceira sorte naquela manha, pois quando o homem entrou certo de sua vitoria, foi surpreendido por uma fera que em um pulo o jogou para o chão e para seu azar seu elmo se soltou e a fera pode destroçar sua garganta.

Me sentei no chão gelado tentando me recuperar de tudo o que havia acontecido, não foi a primeira vez que matei um homem e algo me dizia que não seria a ultima, mas não conseguia me acostumar com a sensação de de tomar uma vida e com meu coração batendo freneticamente em meu peito.

- Obrigado – disse a mesma voz fraca que ouvi na noite anterior e notei que ele estava acordado – Você lutou por mim quando podia ter me entregado e por isso lhe sou grato.
- Não fiz nada de mais, você devia estar descansado ao invés de falar.

- Você fez mais do que imagina – ele estendeu sua mão para seu lobo lamber e de certa forma aquela cena me enjoou, pois a boca da fera estava coberta de sangue – Qual seu nome ferreiro?

- Ulthred senhor.

-Ulthred? Eu lhe devo minha vida Ulthred e a coroa lhe deve o futuro desta guerra.

- Perdão?

- Não posso lhe explicar, mas você fez um grande serviço hoje – e ele desmaiou novamente me deixando mais confuso do que antes. Mas naquele dia eu tive a certeza de que acabei me envolvendo em algo maior do que podia imaginar e na manha seguinte parti com ele rumo ao castelo.

De encontro a rainha e a uma decisão que mudaria o futuro de todo o reino.



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