sábado, 23 de novembro de 2013

Um Conto de Sangue e Ouro - Previa

Obs. Não contem todo o capitulo.

Capítulo I: Júbilo mortal


Havia mais pessoas naquele salão do que eu imaginava. Alguns poucos nobres cavaleiros e seus escudeiros provavelmente em busca de uma chance de provar sua habilidade e valor em combate e com isso fazerem seus nomes percorrerem todo o reino, no entanto a maioria deles não passava de mercenários, alguns profissionais em busca de ouro e outros onde provavelmente eu me encaixava, de pessoas comuns que vieram a este lugar por necessidade ou pela promessa de ouro fácil. Porém, como dizia meu falecido pai, onde há ouro existe problema...

Ao todo devíamos totalizar cerca de trezentas cabeças, mas duvidava que isso servisse para alguma coisa em um combate real ou que todos não sairiam correndo ao menor sinal de perigo. Ainda assim, todos tentavam demonstrar coragem, narrando combates que provavelmente jamais ocorreram ou aventuras épicas que mais pareciam histórias para crianças dormirem. Conforme as aventuras eram mencionadas, vozes tomavam conta do lugar não havendo demora para que, com a chegada de mais pessoas, mais histórias épicas fossem contadas a ponto de ficar quase impossível distinguir uma palavra sequer que fosse dita naquele lugar que agora mal podia comportar todos que estavam ali, devido seu tamanho.

Aquele era provavelmente um salão usado para jantares e nada mais do que isso, suas paredes eram simples, feitas de pedras. Candelabros negros, suportando velas, em todos os cantos concediam ao lugar um toque quase sobrenatural. Os móveis tinham sido retirados de forma que houvesse espaço para comportar o número de pessoas que viriam ali naquela tarde. Havia também um pequeno palco improvisado onde estava sentado um homem gordo e pequeno, de aproximadamente sessenta anos. Saliva e restos de comida caíam de sua boca conforme ele abocanhava coxas de frango, como um animal faminto que não se alimentava há uma semana.

Ao seu lado estavam duas jovens seminuas, de aproximadamente quinze anos. Uma delas era alta e ruiva, com olhos vazios e parecia não ter qualquer emoção, pois sua expressão nunca mudava enquanto ela enchia repetidamente a taça de vinho daquele homem. A outra jovem era de baixa estatura e muito bonita, tinha longos cabelos loiros que caíam até sua cintura e demonstrava clara aversão por estar ali. As duas serviam seu senhor obedientemente, fazendo tudo o que lhes era pedido. Penso que faziam, também, mais do que aquilo.

Havia também outro homem, ao lado do velho. Alto e magro, usava seu cabelo negro para trás com algum tipo de óleo e estava apoiado em uma bengala de madeira.

- Senhores, creio que não há porque adiar nossos negócios – falou o homem com uma voz seca enquanto batia sua bengala no chão tentando chamar a atenção para si.

Murmúrios demonstravam que todos ali concordavam e estavam ansiosos para ouvir a proposta de emprego que lhes era oferecida. Um homem ao meu lado diz que aquele seria um cargo fácil, aquele senhor sempre pagava altas quantias de dinheiro e que todos estariam se afogando em cerveja ao cair da noite.

 - Os negócios de meu senhor têm sofrido com constantes ataques em sua rota comercial ao leste, não sabemos ao certo por quem cometidos, já que os contos diferem sobre ladrões ou grupos de selvagens que podem ter se instalado na região– a menção dos selvagens, ou bárbaros como eram conhecidos mais comumente, havia causado certo desconforto nos que estavam presentes e parecia que muitos deles haviam desistido do serviço antes mesmo de ouvir a proposta – Para tanto, nós queremos contratar suas espadas para escoltar uma caravana comercial que partirá em três noites rumo a capital.

A ideia de enfrentar hordas bárbaras havia desanimado muitos dos presentes que não fizeram cerimônia em retirar-se do local, no entanto ninguém poderia culpá-los por suas covardias. Os povos bárbaros, como eram conhecidos, eram um povo vindo das terras do leste, um local sem leis ou assim acreditava-se, pois ninguém de fato havia ido até lá e retornado para relatar, mas ninguém poderia questionar a voracidade em batalha daqueles homens. Muitos foram os confrontos contra esses povos e poucos que obtiveram resultados de vitórias dignas dos contos que os bardos amavam não que isso os impedisse de compor eles. Enfrentar um bárbaro em combate era quase como enfrentar a morte em pessoa, poucos podiam fazê-lo.

 - Vejo que alguns de vocês não são covardes – disse o homem aos que ainda estavam no salão, zombando daqueles que haviam se retirado – Saibam que cada um de vocês será recompensando com cinco moedas de prata e vinte de cobre e a recompensa dos que não sobreviverem será divida entre os demais.

Não era uma oferta fácil de se recusar, ao menos do meu ponto de vista. A quantia era significativa mesmo sem o adicional e obviamente muitos iriam morrer no meio do caminho. Era fácil identificar o pensamento de todos que ali estavam. Se o medo da morte havia os instigado a abandonar o serviço, o som das moedas sendo colocadas no chão, expostas em um grande baú, trouxe nova confiança e poucos se retiraram.

Há um ditado de onde venho, “Dê uma moeda de ouro a um pobre covarde e terá um soldado corajoso” o que era verdade, porém todos se esqueciam de colocar o adjetivo ignorante no final da frase. E agora eu não era diferente deles, talvez até fosse o mais tolo naquele lugar.

 - Peço que os interessados descansem ate o dia da partida – disse o homem como se estivesse terminando seu discurso - Vocês podem armar suas barracas no jardim e ao redor do castelo.
 - E quanto a nós? – disse um dos cavaleiros, não sabia dizer qual – Espera que nos instalemos junto a esses homens? Somos nobres e merecemos tratamento como tais – odiava esse discurso usado pela nobreza, que tentava sempre se colocar em um nível superior e rebaixar aqueles que não eram seus iguais.

- Seus aposentos já foram providenciados. Meu senhor deseja que tenham a melhor estadia enquanto estiverem sob seu teto.

 Aquilo pareceu ter agradado aos cavaleiros que não seguraram o menosprezo para com os demais que, por sua vez, pareciam não ter se importado com as risadas e insultos, talvez por já esperarem algo do tipo ou estarem acostumados.

 - Esses desgraçados são os mais infelizes por aqui – disse um homem que aparentava ter quarenta anos, com o rosto coberto por um longo cabelo loiro e que terminava em uma barba igualmente longa.

 - Por quê? – perguntei curioso com o comentário e recebi um olhar de perplexidade de volta.

 - Você é novo não é? Logo notei – falou o homem pensativo – Veja o emblema que eles carregam, um leão sobre uma rocha, aquele é o símbolo do lorde Ricardo.

 - E? – perguntei não entendendo.

 - E provavelmente este porco gordo pediu ajuda a Ricardo que mandou esses infelizes a fim de proteger suas carroças de mercadoria – respondeu o homem me encarando – Diferente da gente, esses caras não tem escolha.

 Não havia pensado nisto antes, mas aquele homem tinha razão, ao menos nós mercenários poderíamos escolher se aceitaríamos o trabalho ou não, aqueles homens, por servirem seu reino, não possuíam esta escolha e quase tive pena deles por isso e então me lembrei de como eles nos tratavam.

 - Sorte sua. Por ser apenas um ferreiro, não terá que lutar no campo de batalha conosco – disse o homem ao olhar meu martelo de forja e sabia que não passava de uma piada pelo tom de sua voz.

 - Sou um mercenário.

 - E já matou alguém antes?

 - Já – menti e sabia que ele havia percebido.

 - Quantos?

 - Não me lembro.

 - Sei – e com uma risada ele bateu em meu ombro antes de se retirar com os demais.

 A verdade era que nunca havia matado um homem antes, nem ao menos havia estado em um combate real. Minha pouca experiência em combate vinha de brigas entre garotos e das poucas vezes que meu pai resolveu me testar, o que não valia de muita coisa já que ele era um ferreiro. Seria loucura topar o trabalho, de certa seria morto antes mesmo de conseguir revidar e acho que a loucura havia me encontrado, pois estava decidido a aceitar a oferta. Mas que escolha eu tinha? Precisava de dinheiro e teria que arriscar.

Quando me dei conta, quase todos haviam deixado o local, nem mesmo o “porco” estava lá comendo seus pedaços de frangos nojentos. No entanto preferi ficar ali por algum tempo, aproveitando o silêncio para pensar no que iria fazer. Tinha cerca de dois dias para treinar um pouco e duvidava que acharia alguém disposto.

Encostei-me sobre uma das janelas e senti o vento tocar meus cabelos. Era uma bela manhã, o céu estava límpido e os primeiros raios de sol surgiam. Fiquei algum tempo parado naquele lugar observando os homens arrumarem suas tendas ou improvisando um local para ficarem. Dois homens disputavam a sombra de uma árvore e quase se mataram por ela, terminando apenas com um deles ferido.


 Apertei com força o meu martelo. Era uma arma grosseira, de forja com um cabo maior do que o comum, não era de fato uma arma de guerra. No entanto gostava da sensação de tê-lo por perto, cresci moldando o metal eles então se fosse para o campo de batalha, morreria com um em mãos.

Obs. Não contem todo o capitulo.

2 comentários:

  1. Parabéns pela história está realmente muito boa! Eu faço um trabalho parecido com o seu nesse blog:

    www.aquedademanaleen.blogspot.com.br

    Então creio que possamos criar algum tipo de parceria, o que acha?

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  2. Que bom que você gostou da historia, podemos fazer uma parceria sim, vamos conversar e planejar algo ^^

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