terça-feira, 19 de novembro de 2013

Instrumentos da morte – Parte II

Uma noite de morte

Aquela devia ter sido a pior viagem de minha vida. O simples fato de estar junto com um dos homens mais poderosos de todo o reino e no momento um dos mais procurados também dependendo do lado em que se estivesse na guerra tornava cada segundo uma experiencia aterrorizante, era impossível saber o que iria acontecer, qualquer pessoa poderia ser um inimigo e um inimigo significava encarar a morte.

E infelizmente eu ainda precisava tomar cuidado com Augusto, escondido na parte traseira da coroça, coberto por feno e equipamentos diversos que trouxe comigo. Seus ferimentos não eram graves mas o deixaram debilitado por alguns dias e como não havia um medico que pudesse confiar na época, ele demorou para se curar, fazendo daquela uma viagem longa, assustadora e tediosa.

Ah e não podia me esquecer que seu lobo caminhava ao nosso lado por toda a viagem o que chamava a atenção de qualquer um que cruzasse nosso caminho.

- Você tem sido muito bom comigo – disse Augusto quando havíamos acampado no meio da mata, já próximos de nosso destino.

- Não precisa me agradecer – e realmente não precisava, eu estava fazendo aquilo por boa vontade, apesar de nunca entender porque havia me envolvido nisso, talvez fosse pelo fato dele ser quem fosse. Havia algo nele que atraia as pessoas.

- Ainda vou te recompensar pelo que fez por mim e por todo o reino.

- Obrigado – falei sem saber o que responder.

Aquilo era estranho, a alguns dias eu estava quieto em minha forja, criando armas para serem usadas em uma guerra que eu jamais imaginei tomar parte, exceto fabricando tudo o que fosse necessário para que ela continuasse e agora estava no meio da mata, com Augusto ferido sobre meus cuidados e rumo a um encontro com a rainha. E aquela era a parte mais assustadora de todas.

Naquela época fazia dois anos que aquela porcaria de guerra havia começado e não podia reclamar disso, uma guerra era uma porcaria que acabava com um reino, uma interna então era algo catastrófico mas era bom para pessoas como eu, que podiam lucrar com isso. O problema era o motivo que levou o reino a se dividir em um mar de sangue.

Amanda assumiu o trono com a morte de seu pai. O falecido rei não tinha nenhum herdeiro que pudesse assumir o trono exceto suas duas filhas gêmeas e obviamente a mais velha assumiu a posição de rainha. Para a infelicidade de todos ela era louca e sádica se todos os rumores estavam certos e em seu poder o reino se transformou em um pesadelo, haviam leis mais restritas e sem sentido, havia tortura em publico e coisas que preferia não lembrar.

Não demorou para que uma revolta civil tomasse conta do reino. Com o descontentamento muitos nobres e boa parte do exercito começou a apoiar Julliet a irmã mais nova e uma pessoa amável como fui descobrir.

E eu estava indo me juntar a pior delas.

Eclipse, o lobo negro de Augusto que ate então parecia estar dormindo se levantou e começou a rosnar. Augusto estava setado encostado na carroça e olhou para a direção que o lobo encarava, levando o punho ate o cabo de sua espada apesar de não estar em condições de lutar. Segurei uma espada que havia trazido comigo para a viagem e me levantei.

- Algum animal talvez?

- Não, Eclipse é bem treinado... Melhor se preparar.

Uma seta cortou um pouco do meu cabelo e um filete de sangue quando raspou em minha orelha esquerda e bateu na carroça, próximo a Augusto. Com o ataque Eclipse sumiu pela floresta e alguns segundos depois um grito ecoou pela escuridão e três homens saíram do meio da mata vestido com trapos e empunhando armas velhas.

- bandidos – falei baixinho quando o mais rápido me alcançou e aparei o golpe de sua espada, chutando sua virilha o que o fez envergar para frente e facilitar que minha lamina entrasse em seu abdômen. O segundo, que tinha o tamanho de um urso e era tão peludo quanto correu em direção a Augusto, certo de que conseguiria mata-lo sem esforço enquanto seu colega lutava comigo.

Como se a fera tivesse algum tipo de ligação com seu dono, Eclipse surgiu novamente e saltou de encontro do homem, mordendo seu pescoço e o jogando no chão que foi imundando de sangue enquanto o lobo estraçalhava-lhe a garganta. A cena nojenta fez com que o ultimo dos bandidos se mijasse e ficasse parado tremendo.

- Misericórdia – ele disse caindo de joelho no próprio mijo.

- O que eu faço com ele – falei colando a lamina de minha espada em sua garganta.

- Mate-o, essa escoria não merece viver.

O homem tentou falar algo mas abri sua garganta e o corpo caiu duro no chão. Olhei para o corpo e depois para o lobo que se alimentava do homem urso.

- Não vou me acostumar com isso.

- Fica fácil com o tempo – ele sempre falava da morte como algo fácil de se lidar, mas ao mesmo tempo era um homem que valorizava a vida, em especial a de seus companheiros de guerra como fui descobrir algum tempo depois.

Afinal, eu ainda iria matar muitas pessoas sobre o seu comando.



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