domingo, 17 de novembro de 2013

Profecias do Ultimo Dia – Parte I

O Herdeiro e o Mensageiro

Havia participado daqueles ritos por tantas vezes que minha memoria havia se esquecido do numero e ainda assim não conseguia me acostumar em ter que cortar a palma de minha mão e deixar o sangue escorrer para uma pira de fogo que exaltava um fedor insuportável. Quando as primeiras gotas caíram na pira o fogo cresceu como se alimentado pela energia vital contida em meu sangue e dançou como se tivesse tomado vida própria.

E não conseguia ver nada.

- Não se preocupe jovem mestre – disse um dos mais velhos de nossa ordem e encarregado daqueles rituais – Leva-se muito tempo para poder ver o que existe dentro das chamas, o futuro não é revelado antes que a pessoa se torne digna de vê-lo.

- Como posso herdar a ordem se não consigo exercer os meus deveres? Odeio duvidar das palavras de nosso Abençoado Val the’l, mas não vejo porque deveria suceder seu trono. Dorum não me ama.

- Dorum ama a todos - repreendeu o mestre dos rituais – Mas tudo tem seu tempo.

Apertei meu punho cortado e joguei mais sangue dentro da pira e tudo o que consegui foi perder mais do meu precioso sangue.

As portas da câmera de rituais foram abertas e um jovem invadiu o aposento apreçado.

- Jovem mestre, mestre dos rituais – ele abaixou a cabeça em comprimento e quando o mestre dos rituais sinalizou para ele se erguer, o jovem ofegante me encarou – Nossa excelência o Abençoado requer sua presença, com urgência.

Sai sem deixar que os dois falassem qualquer coisa, estava a tempos na ordem e mesmo sendo escolhido para sucede-la, não conseguia me acostumar com a forma ridícula que todos se comportavam. Odiava os títulos, odiava a educação exagerada e forma pomposa que todos fingiam falar.

Passei pelos corredores de mármore branco que ligavam a câmera dos rituais ao salão principal. No caminho haviam muitos acólitos e mestres da ordem, mas nenhum deles ousou falar comigo pois meu ódio e raiva estavam estampados em meu rosto, por isso eles se contentavam em me reverenciar e ficar calados.

O salão estava quase vazio, o que era raro. Era comum ver dezenas de acólitos perguntando a Val sobre os segredos de nossa fé, sobre o mundo e sobre Dorun ou sua esposa Elf’el.

- Orl’har Mai Dorum – falei como era o costume ao ficar na presença daquele homem. Dizíamos aquela frase para quase tudo.

- Orl’har Mai Dorum – respondeu Val que me encarava com um olhar preocupado e isso era algo raro de se presenciar.

Val estava sentado em seu trono de ouro, trajando suas vestes brancas e simples. Mesmo sendo nosso líder, ele abdicou de qualquer luxo e se vestia como qualquer acolito. Uma batina branca e uma corda preta amarrada a cintura.

Ao seu lado estavam dois homens, que alem da batina vestiam uma túnica e algumas pedras preciosas presas ao seu cinto, que indicavam seu status dentro da ordem. Eram Carmiron e Jaspiron, irmãos gêmeos que cresceram dentro da ordem e ascenderam ao conselho dos dez, um grupo seleto que cuidava da ordem em nome de Val.

- Abistam – falou Val e sua voz denunciava sua preocupação e isso me incomodava – Dorum me enviou um sinal, uma mensagem triste e preocupante.

Fiquei em silencio encarando-o e imaginando o que poderia ter deixado-o naquele estado.

- Uma grande sombra paira sobre o mundo e a luz de Dorum esta sendo coberta por ela. Uma guerra de proporções nunca antes vistas vai cobrir o mundo dentro de pouco tempo e temo pelo que possa acontecer.

O mundo sempre estava coberto por um sombra e o mundo sempre estava em guerra, cada uma sempre maior que a outra. Para mim isso não passava de exagero.

- Tenho sonhado com minha morte, com a morte de nossos irmãos e com a queda de nossa fé. Tenho visto nas chamas um homem, mas sua imagem é confusa e não sei quem é ou seu papel nesses eventos – ele respirou profundamente procurando as palavras para continuar – Os tempos estão acabando e você ira assumir o trono em breve, pois meu tempo é curto neste mundo.

- Você ainda vivera por muitos anos – falei sem esconder minha descrença com o que estava ouvindo e enquanto os dois anciões desejavam me repreender, Val apenas suspirou como um pai que vê um filho cometendo um erro e sabe que esse mesmo erro é que deve ensina-lo sobre o que é correto.

- Abistam, você sempre foi mais rebelde e o mais descrente de todos os que já passaram por essa ordem, mas existe bondade em seu coração e sinto que Dorum te abençoou mais do que qualquer um de nós. Você ainda vai entender – Val fez um sinal para os dois, que pegaram uma caixa posta sobre a mesa perto do trono. Carmiron retirou uma espada de dentro da caixa e a entregou a mim após se ajoelhar na minha frente – Esta é a sagrada espada de nossa ordem, a arma dada a nosso fundador pelo próprio Dorum para que ele lutasse com as trevas quando a hora chegasse. Ela é sua.

Fiquei inquieto enquanto segurava o cabo da espada, podia sentir a energia que emanava daquela lamina e tinha certeza de que ela não era desse mundo. A espada tinha uma cor branca como leite e as vezes parecia emanar uma aura dourada. Sua guarda e seu punho eram feitos de ouro e havia uma âmbar vermelha no pomo em forma de grifo.

- Com minha morte eu lhe deixarei uma ultima missão, caminhe pela terra, converta os infiéis e forme o maior exercito já visto, o exercito de nosso senhor que carregara sua luz e banira o mal que recai sobre esse mundo. Você tem a maior missão dada a um de nos, de unir os povos e derrotar nossos inimigos.

- Eu... – Não conseguia encontrar as palavras certas para descrever o que estava sentido e pensando sobre tudo aquilo, ao mesmo tempo que me parecia uma loucura de um velho senil, sentia o peso do destino sobre minhas costas – Não sei se posso.

- Você pode, só você pode. Quando eu morrer, você partira com um grupo seleto de meus melhores homens e começara sua cruzada. O tempo é curto.

Com aquelas palavras, ele fez um sinal para que o deixasse a só. Levei a espada para meus aposentos pensando sobre tudo o que havia acontecido e encantando com o poder que sentia ao lutar contra um inimigo imaginário.

Passei a noite meditando em frente a chama de minha lareira e quando o dia havia chegado, o sino de nossa ordem havia soado e eu soube antes de qualquer um me dizer que Val havia falecido e descansava no Hall das  mil almas.


Querendo ou não, minha cruzada havia começado.

Um comentário:

  1. Parabéns pela história está realmente muito boa! Eu faço um trabalho parecido com o seu nesse blog:

    www.aquedademanaleen.blogspot.com.br

    Então creio que possamos criar algum tipo de parceria, o que acha?

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