terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Instrumentos da morte – Parte III


A rainha

Aquilo era desconfortante e podia sentir o suor frio escorrendo pela minha nuca enquanto seus olhos me estudava. Eu não conseguia entender o porque da demora e mesmo sabendo que aquilo iria acontecer, fiquei espantado quando fui informado que deveria me dirigir ate o salão  real por ordens da rainha.

E se estar frente a frente com a pessoa mais poderosa do reino já era intimidador, ela conseguia tornar aquela experiencia em um pesadelo. Haviam quatro cães deformados que comiam restos de carne humana, ambos amarrados ao trono por grossas coleiras feitas de uma corrente negra e pontiaguda, manchadas de sangue seco. A própria rainha se vestia inteiramente de vermelho, ou melhor, as poucas peças que ela usavam eram, pois ela vestia apenas uma saia que cobria pouco mais do que suas partes intimas e uma peça de roupa para cobrir seus seios, deixando todo seu corpo a mostra. Alguns dias depois daquela reunião eu descobri por meio de um bêbado que ela gostava de exibir seu corpo como uma especie de troféu.

- Meus cães te assustam ferreiro? – ela perguntou quebrando de súbito o silencio e me espantei com sua voz fina como a de uma criança.

- Não majestade.

A rainha estralou seus dedos e um homem vestido de bobo da corte lhe trouxe um chicote. Era uma arma grosseira, feita de couro e tingida de vermelho. Ela pegou a arma, se levantou e me para minha surpresa me golpeou no rosto.

O impacto me fez cair no chão e senti o sangue escorrendo pela minha bochecha esquerda e sujando minha camisa.

- Odeio mentirosos ferreiro, é bom se lembrar disso.

- Sim majestade.

Ela me circulou com passos lentos, ameaçou me atacar uma ou duas vezes e depois parou atrás na minha costa, segurando meus ombros e sussurrando em meu ouvido.

- Você me fez um grande favor ferreiro, salvou um de meus melhores homens e ajudou a dar mais um passo para o fim desta guerra maldita. Eu quase posso ate sentir o pescoço de minha irmã nas minhas mãos – ela apertou meus ombros enquanto falava aquelas ultimas palavras, cravando sua unha em minha carne.

Aguentei a dor, não para parecer forte, mas temia por minha vida em sua presença, se ela me chicoteou por aquilo, ninguém poderia dizer do que mais ela seria capaz.
- Vou te colocar nas tropas de Augusto, tenho certeza que ainda vou ouvir falar muito sobre você... Ou quem sabe você prefere que eu lhe de uma recompensa e te mande de novo para sua vida pacata e miserável?

Pensei naquilo, poderia ter aceito o dinheiro e vivido longe dela, vivido em paz e sossego dentro de minha forja. Mas havia um sentimento estranho dentro que não entendia na época, uma sentimento que me fazia querer lutar ao lado de Augusto.

- Prefiro lutar – e quando disse aquelas palavras me perguntei pelo que estava lutando? Por uma rainha que eu mal conhecia e que preferia morta no pouco tempo em que estive em sua presença? Por Augusto? Eu não tinha ideia do porque eu estava lutando.

- Ótimo, mas primeiro você precisa de uma arma decente, vou providenciar que não precise mais usar esse martelo ridículo.

- Sim majestade...

Ela ordenou que eu me retirasse e encontrei Augusto do lado de fora do salão real, ele acenou com a cabeça para que eu o seguisse e me levou ate seus aposentos. A porta foi trancada e com um olhar extremamente serio ele me perguntou:

- O que achou dela?

Não respondi a pergunta.

- Você é esperto, mas pode ser honesto comigo, eu odeio essa mulher, as vezes eu amaldiçoo a honra e o dever que me acorrenta a essa bruxa maldita.

Fiquei em choque ao ouvir aquelas palavras daquele homem, todos sabiam o quanto Augusto era justo e seguia as leis como um pato que segue sua mãe, por isso era estranho ouvir aquelas palavras de sua própria boca.

- Senti a mesma vontade se é isso que quer saber.

- Perfeito – ele disse e esboçou um leve sorriso que não podia compreender na época – Por horas temos uma nova missão Ulthred e como meu mais novo homem, espero muito de você nela.

- E qual seria essa missão?

- Vamos invadir um forte e matar todos que estiverem dentro dele, é um ponto estratégico que deve ser capturado para ganharmos essa guerra.

- Entendo... – A perspectiva de uma batalha invadindo um forte não era a mais agradável de todas, mas sabia que não poderia voltar a atrás com minha palavra – E quando partimos?

- Ao anoitecer, descanse, beba nas tavernas, faça o que quiser, mas esteja pronto ao anoitecer.

- Tudo bem – falei e me virei para sair de seu quarto, quando abria porta ele de súbito falou:

- Ulthred, eu posso confiar em você não posso?

- Sim – respondi estranhando a sua pergunta.

- Ótimo, pode ir agora – e então sai do quarto pensando no significado daquelas palavras.

Agora eu era oficialmente um soldado, lutaria lado a lado com Augusto, serviria uma rainha louca que odiei desde que coloquei os olhos nela e aquilo era apenas o começo de algo muito maior.







Nenhum comentário:

Postar um comentário