O
Herege
O templo principal de nossa religião e
morada de nossos mais importantes membros, havia sido construído dentro de uma
montanha de formação única. A montanha principal que sediava nossa morada subia
aos céus como uma grande lança e se perdia de vista e estava sempre coberta por
gelo, apesar de nunca estar frio, um fenômeno que jamais consegui compreender.
O que tornava tudo mais interessante era que essa mesma montanha era cercada
por uma segunda, em menor estatura que a circulava como uma muralha natural.
Havia uma passagem entre essa segunda montanha, que servia como única forma de
entrada e saída do templo, em uma caminhada que durava três dias e dava para
uma pequena estrada em uma floresta que poderia ser atravessada em mais cinco
dias.
Foi somente no quinto dia de viagem
que eu percebi o quão tolo havia sido durante toda a minha vida. Era noite
quando a conselho de Carlos, um dos melhores generais de nossa ordem, montamos
um acampamento improvisado fora da estrada, para não chamar atenção e deixar a
espada em segurança. Éramos oito ao todo, um numero que considerava pequeno
para uma missão tão importante, mas os anciões insistiram que eu deveria viajar
com poucos homens pois a descrição era fundamental e isso tornaria a viagem
mais rápida.
Nosso grupo era composto por mais
cinco guerreiros experientes e um sacerdote que deveria me orientar e servir
como guia espiritual em nossa jornada, mas ele mal falava comigo durante a
viagem, como se estivesse nervoso com alguma coisa.
Eu também havia notado que todos
estavam nervosos naquela noite enquanto montavam o acampamento, ascendia a
fogueira e aproveitavam do calor que ela produzia. Hora ou outra alguém me
olhava rapidamente e depois desviava seu
olhar para a fogueira. Não sei bem porque mais pensei na espada presa a minha
cintura, e toquei seu cabo para sentir seu poder, o que deixou os homens mais
nervosos e me fez entender que algo ali não estava certo.
Desembainhei a espada e vi o pavor em
seus olhos, eles estavam com medo e havia tensão entre todos, mas por quê?
- Esta espada é magnifica – falei por
falar – Posso sentir o poder que pulsa de sua lamina e o peso de nossa missão
sagrada.
- Devíamos testa-la não acha? –
sugeriu Carlos, se levantando e desembainhando sua propria espada – Um pequeno
treino seria ótimo para você.
Os homens não me deram tempo de
responder, uma a um eles formaram um circulo a nossa volta, como se estivessem
formando uma pequena arena de treinamento. Senti um frio percorrendo minha
espinha quando segurei a lamina a minha
frente com as duas mãos, e vi o reflexo de uma das fogueiras refletida em sua
lamina. Para meu espanto, pela primeira vez eu pude vislumbrar uma visão do
futuro nas chamas. Vi o homem que a minhas costas me atacar de forma covarde e
errar seu golpe, vi os demais me atacando sem piedade e minha morte lenta.
Naquela hora eu soube o que devia
fazer e que Dorum estava do meu lado.
- Sabe Carlos – falei com uma confiança estranha, pois não estava com medo – dizem que você é um dos melhores
espadachins de nossa ordem. Fico pensando o que aconteceria se isso não fosse
apenas um treino.
E com aquelas palavras tomei a dianteira
e me virei golpeando o homem que iria me atacar, a lamina cortou a carne
penetrando fundo no osso, abrindo seu corpo desde o ombro esquerdo ate o fim do abdômen. Parecia que meu oponente era um pedaço de papel.
Ninguém esperava por aquilo e entre a
morte do primeiro homem e o tempo que eles levaram para perceber que eu havia
descoberto seu plano, arranquei a cabeça de um segundo homem que rolou no chão
boquiaberto.
- Matem-o – gritou Carlos tentando
fazer seus homens se recuperarem do choque e usarem seu numero para me conter.
Mas eles estavam apavorados, deviam contar com uma morte rápida e sem reação,
nenhum deles esperava precisar erguer sua espada contra uma lamina divina e seu
escolhido.
E eu parecia um arauto da morte
lutando com ela, era como se meus movimentos estivessem sendo guidados por uma
força externa. Bloquear e atacar sem dificuldade, como se meu corpo
simplesmente soubesse o que fazer. E eles apenas morriam com desespero nos
olhos.
- Traição é punível com a morte –
falei para Carlos com minha lamina em seu pescoço. Ele estava caído no chão,
gemendo e segurando o que restou do seu braço esquerdo. Quando ele havia
tentado me matar, acreditando que estava distraído com o que havia restado de
seus homens, me esquivei de seu golpe e
descepei seu braço, depois bastou chuta-lo para que ele caísse e ali
ficasse.
Ele tentou cuspir na minha cara mas
sua saliva caiu em seu próprio rosto.
- Você é uma vergonha, é indigno assim
como seu antecessor, nossa fé precisa de homens fortes que possam nos guiar
pelo verdadeiro caminho.
- E esse caminho apenas te levou a
morte seu to-lo.
- Minha morte marcara o começo de uma
nova era no ordem, logo você sera caçado como um herege, o conselho governara e
uma verdadeira cruzada terá inicio. Não seu tolo, meu caminho te levara a morte.
Foi então que eu notei que o sacerdote
não estava no acampamento, ele devia ter aproveitado a confusão e voltado para
o templo, contado que eu havia traído o grupo e assim seria caçado como um
herege caso escapasse com vida do combate.
Abri a garganta de Carlos de forma que
ele morresse lentamente com a perda de sangue e limpei minha lamina. Juntei
tudo o que podia e parti sozinho.
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