quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Profecias do Ultimo Dia – Parte II


O Herege

O templo principal de nossa religião e morada de nossos mais importantes membros, havia sido construído dentro de uma montanha de formação única. A montanha principal que sediava nossa morada subia aos céus como uma grande lança e se perdia de vista e estava sempre coberta por gelo, apesar de nunca estar frio, um fenômeno que jamais consegui compreender. O que tornava tudo mais interessante era que essa mesma montanha era cercada por uma segunda, em menor estatura que a circulava como uma muralha natural. Havia uma passagem entre essa segunda montanha, que servia como única forma de entrada e saída do templo, em uma caminhada que durava três dias e dava para uma pequena estrada em uma floresta que poderia ser atravessada em mais cinco dias.

Foi somente no quinto dia de viagem que eu percebi o quão tolo havia sido durante toda a minha vida. Era noite quando a conselho de Carlos, um dos melhores generais de nossa ordem, montamos um acampamento improvisado fora da estrada, para não chamar atenção e deixar a espada em segurança. Éramos oito ao todo, um numero que considerava pequeno para uma missão tão importante, mas os anciões insistiram que eu deveria viajar com poucos homens pois a descrição era fundamental e isso tornaria a viagem mais rápida.

Nosso grupo era composto por mais cinco guerreiros experientes e um sacerdote que deveria me orientar e servir como guia espiritual em nossa jornada, mas ele mal falava comigo durante a viagem, como se estivesse nervoso com alguma coisa.

Eu também havia notado que todos estavam nervosos naquela noite enquanto montavam o acampamento, ascendia a fogueira e aproveitavam do calor que ela produzia. Hora ou outra alguém me olhava  rapidamente e depois desviava seu olhar para a fogueira. Não sei bem porque mais pensei na espada presa a minha cintura, e toquei seu cabo para sentir seu poder, o que deixou os homens mais nervosos e me fez entender que algo ali não estava certo.

Desembainhei a espada e vi o pavor em seus olhos, eles estavam com medo e havia tensão entre todos, mas por quê?

- Esta espada é magnifica – falei por falar – Posso sentir o poder que pulsa de sua lamina e o peso de nossa missão sagrada.

- Devíamos testa-la não acha? – sugeriu Carlos, se levantando e desembainhando sua propria espada – Um pequeno treino seria ótimo para você.

Os homens não me deram tempo de responder, uma a um eles formaram um circulo a nossa volta, como se estivessem formando uma pequena arena de treinamento. Senti um frio percorrendo minha espinha quando segurei  a lamina a minha frente com as duas mãos, e vi o reflexo de uma das fogueiras refletida em sua lamina. Para meu espanto, pela primeira vez eu pude vislumbrar uma visão do futuro nas chamas. Vi o homem que a minhas costas me atacar de forma covarde e errar seu golpe, vi os demais me atacando sem piedade e minha morte lenta.

Naquela hora eu soube o que devia fazer e que Dorum estava do meu lado.

- Sabe Carlos – falei com uma confiança estranha, pois não estava com medo – dizem que você é um dos melhores espadachins de nossa ordem. Fico pensando o que aconteceria se isso não fosse apenas um treino.

E com aquelas palavras tomei a dianteira e me virei golpeando o homem que iria me atacar, a lamina cortou a carne penetrando fundo no osso, abrindo seu corpo desde o ombro esquerdo ate o fim do abdômen. Parecia que meu oponente era um pedaço de papel.

Ninguém esperava por aquilo e entre a morte do primeiro homem e o tempo que eles levaram para perceber que eu havia descoberto seu plano, arranquei a cabeça de um segundo homem que rolou no chão boquiaberto.

- Matem-o – gritou Carlos tentando fazer seus homens se recuperarem do choque e usarem seu numero para me conter. Mas eles estavam apavorados, deviam contar com uma morte rápida e sem reação, nenhum deles esperava precisar erguer sua espada contra uma lamina divina e seu escolhido.

E eu parecia um arauto da morte lutando com ela, era como se meus movimentos estivessem sendo guidados por uma força externa. Bloquear e atacar sem dificuldade, como se meu corpo simplesmente soubesse o que fazer. E eles apenas morriam com desespero nos olhos.

- Traição é punível com a morte – falei para Carlos com minha lamina em seu pescoço. Ele estava caído no chão, gemendo e segurando o que restou do seu braço esquerdo. Quando ele havia tentado me matar, acreditando que estava distraído com o que havia restado de seus homens, me esquivei de seu golpe  e descepei seu braço, depois bastou chuta-lo para que ele caísse e ali ficasse.

Ele tentou cuspir na minha cara mas sua saliva caiu em seu próprio rosto.

- Você é uma vergonha, é indigno assim como seu antecessor, nossa fé precisa de homens fortes que possam nos guiar pelo verdadeiro caminho.

- E esse caminho apenas te levou a morte seu to-lo.

- Minha morte marcara o começo de uma nova era no ordem, logo você sera caçado como um herege, o conselho governara e uma verdadeira cruzada terá inicio. Não seu tolo, meu caminho te levara a morte.

Foi então que eu notei que o sacerdote não estava no acampamento, ele devia ter aproveitado a confusão e voltado para o templo, contado que eu havia traído o grupo e assim seria caçado como um herege caso escapasse com vida do combate.

Abri a garganta de Carlos de forma que ele morresse lentamente com a perda de sangue e limpei minha lamina. Juntei tudo o que podia e parti sozinho.

Pois agora eu era um herege e tinha uma missão a cumprir fosse ela qual fosse.

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