segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Profecias do Ultimo Dia – Parte III

Chamas 

Havia passado duas semanas desde que fui traído, o que custou a vida de bons soldados da ordem. Duas semanas e aquele evento ainda consumia minha mente, pois eu possuía uma missão e não havia nenhuma espada ao lado para confiar minha retaguarda. Estava sozinho, com uma espada magica e com o dever de livrar a terra do mal ou algo do gênero, uma missão impossível sem sombra de duvida.

As vezes duvida das palavras de Val, as vezes duvidava de minha missão e de nossa fé, me perguntava se éramos um bando de loucos fanáticos ou uma ordem que seguia a uma entidade superior, guiando os homens de uma forma estranha e inexplicável. Mas de uma coisa eu tinha certeza. Aquela arma não era uma lamina comum.

- Mais alguma coisa senhor? – perguntou uma linda moça com corpo jovem e curvas que seriam capazes de tentar ate mesmo Val. Seu nome era Rebeca e ela trabalhava na pequena taverna onde estava fazia dois dias.

- Uma cerveja seria bom.

A primeira coisa que fiz foi me livrar das vestes de nossa ordem. Aquela batina branca, com o cordão negro na cintura e a capa vermelha usada apenas por membros de alto escalão na ordem e que representava a Luz de Dorum chamava muita atenção e não queria parecer um membro da ordem. Val devia estar se revirando em seu tumulo pois era proibido que um membro da ordem usasse qualquer coisa além dos nosso trajes, mas sinceramente ele podia se revirar o quanto quisesse eu me sentia bem melhor com aquela camiseta apertada de algodão, a calça de couro marrom com um bom sinto a onde prendia a bainha de minha espada. As botas em especial eram um luxo.

- Parece que estão reunindo homens em algum forte não muito longe daqui – falou um homem do tamanho de um urso que estava sentado na mesa ao lado com seus dois colegas – Parece que o exercito quer juntar homens para mandar a fronteira, dizem que os ataques bárbaros estão aumentando ultimamente.

- Aqueles malditos deviam ficar em suas terras onde é melhor para eles, será que eles não cansam de tentar invadir nosso reino e serem repelidos? – falou um dos seus colegas, um rapaz jovem e que devia fazer muito sucesso com as mulheres.

- Você fala isso porque ta com sua bunda quente em uma cadeira tomando uma boa cerveja, queria ver falar isso na cara de um deles. Aqueles malditos são o cão quando estão lutando – o terceiro era baixo e feio, com  cara parecida com a de uma mula.

Bárbaros. Aquela foi uma palavra que passei a ouvir cada vez enquanto estava fugindo de meus irmãos e buscando algum sentido para tudo o que precisava fazer. Já ouvi falar deles na ordem, eram um povo que ficava além das montanhas no vale dos mortos, guerreiros por natureza, cuja cultura era completamente desconhecida por todos, afinal, ninguém voltava com vida de suas terras e por isso mesmo ninguém mais ia ate lá.

Mas não eram as conversas exageradas e o medo dos bárbaros que me intrigava, era o fato de que ultimamente toda vez que eu olhava para uma chama, via um campo de batalha, via um homem forte cujo rosto era incapaz de enxergar e ele usava um martelo como arma, algo que considerava muito estranho. Há e havia bárbaros com ele, nunca entendi o que estava acontecendo nas minhas visões e por isso olhei novamente para uma chama que vinha da cozinha, na esperança de entender aquela mensagem.

Mas como sempre, eu só conseguia ver o homem, seu martelo e os bárbaros, nada mais e nada menos. De súbito, a imagem mudou e ele viu três de seus irmãos chegarem a cidade, espalhando o fato dele ser procurado, a imagem se distorceu enquanto o cozinheiro mexia no fogão, colando mais lenha. Quando a imagem se tornou clara novamente, ele se viu em uma arruela lutando contra o homem urso e seus dois amigos.

Pelo jeito havia uma recompensa em minha cabeça e sua viagem seria cada vez mais difícil.

- Sua cerveja senhor – Rebeca me tirou do mundo dos pensamentos e me trouxe a realidade com aquela voz suave de uma menina mulher.

Sorri de volta, agradeci por seu trabalho e enquanto tomava minha cerveja fiquei observando os homens que teria que matar. Se fosse possível eu tentaria evitar cruzar o seu caminho, evitaria entrar em uma arruela, mas as visões nunca eram claras o suficiente e mesmo tentando evita-las, era capaz de hora ou outra entrar no lugar errado.

Duas horas depois eu estava fora da taverna caminhando pela cidade, tentando decifrar qual seria o lugar da visão, quando meio que por acaso eu percebi dois dos três acólitos da ordem que estavam nas chamas, eles passaram por mim rezando sem ter pensando por um único momento que era eu quem eles procuravam. Sorri com aquilo pois, além de não estar trajando as roupas de minha ordem, o que duvidava que eles fossem pensar, também eram poucos que conheciam minha face, provavelmente eles deviam ter uma descrição mas duas semanas eram capazes de deixar um homem da ordem diferente. Agora eu estava com uma barba media e usava meu cabelo preso em um rabo de cavalo que ainda crescia aos poucos. Eles deviam estar procurando alguém com rosto limpo e cabelo aparado, como usava antes.

Se tivesse prestado um pouco mais de atenção ao meu redor e não tivesse deixado que meu “disfarce” subisse a cabeça, eu teria reparado que os três homens estavam me seguindo. Ainda distraído, um garoto passou correndo por mim e pegou minha bolsa de moedas, sumindo por um beco.

Sem pensar duas vezes eu o persegui, dando de cara com uma arruela sem saída. O garoto estava encostado na parede, com olhar confiante e quando me perguntei o porque daquilo, uma risada grossa tomou conta do lugar.

Era o homem urso que estava com seus dois colegas fechando arruela e com espada nas mãos.

- Passe o resto de seus pertences e prometo te deixar partir com vida – e se estar naquela situação não fosse ameaçador o suficiente, sua voz grossa tornava a fala ainda mais assustadora. Mas aquilo pouco importava.

Desembainhei minha espada e finquei na barriga do garoto que estava atrás de mim, não precisei olhar para trás para desferir aquele golpe e muito menos para saber que ele estava gemendo enquanto suas tripas caiam no chão.

- Filho da puta – gritou o homem com cara de mula, que tomou a dianteira para me atacar. Desviei do golpe e coloquei meu pé no seu caminho, fazendo quem ele fosse de cara na parede se arrebentando e caindo morto no chão.

- Você perdeu dois amigos, acho que seria mais prudente sair daqui antes que eu mate os dois.

O menor pareceu ponderar minhas palavras e senti ele fraquejando, mas seu colega não se intimidou, confiante em seu tamanho e sua força. Ele investiu em uma carga furiosa e desajeitada, bastou um movimento, uma esquiva para cortar o tendão de sua perna esquerda e faze-lo se dobrar sobre os joelhos, tornando muito mais simples abrir um rasgo que vinha de seu abdômen ate sua testa.

Bastou um olhar após ver o grandão tombar para que seu amigo sobrevivente saísse correndo o mais rápido que podia. Me voltei para o garoto que choramingava baixinho enquanto os últimos sopros de vida ainda corriam dentro dele.

- Foi mal garoto – falei dando de ombros antes de separar sua cabeça do corpo e pegar meu dinheiro de volta, além de revistar os bolsos dos três mortos onde encontrei mais algum dinheiro.

O fogo nunca mentia, eu havia lutado contra eles como ele previu. Faltava apenas entender quem era aquele homem empunhando um martelo e o que ele significava dentro do tabuleiro que o destino preparava.

E naquela época eu mal sabia que todas as peças haviam sido posicionadas e que o primeiro movimento já havia sido feito.



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