Ecos dos Inocentes I
Era de noite quando chegamos ao forte.
Augusto mandou que montássemos acampamento em uma floresta próxima e não ascendêssemos
nenhuma fogueira para não chamar atenção. Os homens reclamaram pois fazia um
frio de doer os ossos, mas ninguém ousou desobedece-lo, usando apenas
cobertores de pele para se proteger do frio.
Augusto veio ate mim e pediu que eu o
acompanhasse por um momento, saímos do acampamento e nos afastamos pela
floresta, paramos quando chegamos a um terro alto, de onde podíamos ver o forte
e algumas fazendas que o cercavam.
- O que você vê?
Pensei um pouco antes de responder,
tentando imaginar o que ele queria ouvir.
- Um forte?
- Eu vejo nossas terras – ele apontou
para as fazendas – Eu vejo nossas próprias pessoas dentro de suas casas,
esperando que a guerra não os alcance e sei que existe um numero dez vezes
maior de homens dentro do forte, armados ate os dentes e sabe o que é pior? Metade deles deve ter um parente do nosso lado.
Não sabia o que responder. Infelizmente
o que ele dizia era verdade e não conseguia imaginar como alguém se sentia
sabendo que em poucas horas, deveria usar o fio de sua arma para sangrar um
ente querido que havia escolhido o lado oposto naquela guerra. Aquilo me deu
arrepios e fiquei feliz por não ter familiares.
- Não é fácil fazer o meu trabalho,
não importa quem ganhar essa guerra, os dois lados já perderam quando ela
começou e não quero imaginar o que faremos quando a população não puder mais
aguentar. Isso precisa acabar logo.
- Então é melhor um dos lados ganhar
essa guerra logo.
Augusto me olhou com os olhos cerrados
e me arrependi do que falei, era obvio que não deveria querer a vitória de
nossos inimigos, mas algo me dizia que não era por isso que ele me olhava
daquela forma.
- Você tem coragem ferreiro – ele bateu
no meu ombro, riu e se virou para voltar ao acampamento. Levei um tempo para
segui-lo, tentando entender o que ele queria.
Quando cheguei novamente no
acampamento, Augusto estava preparando seus homens e passando tochas para
todos. Ele me olhou e havia dor em seus olhos.
- Vamos Ulthred – ele me estendeu uma
tocha – Esta frio essa noite, ´vamos levar fogo a nossos irmãos.
Hesitei e quando sentia madeira em
minhas mãos, senti o peso que ela carregava, afinal, eu estava a caminho de
matar pessoas que não tinham nada a ver com as duas rainhas, iria queimar suas
terras e depois ajudar aqueles homens a matarem seus familiares.
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