quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Instrumentos da morte – Parte IV

Ecos dos Inocentes I

Era de noite quando chegamos ao forte. Augusto mandou que montássemos acampamento em uma floresta próxima e não ascendêssemos nenhuma fogueira para não chamar atenção. Os homens reclamaram pois fazia um frio de doer os ossos, mas ninguém ousou desobedece-lo, usando apenas cobertores de pele para se proteger do frio.

Augusto veio ate mim e pediu que eu o acompanhasse por um momento, saímos do acampamento e nos afastamos pela floresta, paramos quando chegamos a um terro alto, de onde podíamos ver o forte e algumas fazendas que o cercavam.

- O que você vê?

Pensei um pouco antes de responder, tentando imaginar o que ele queria ouvir.

- Um forte?

- Eu vejo nossas terras – ele apontou para as fazendas – Eu vejo nossas próprias pessoas dentro de suas casas, esperando que a guerra não os alcance e sei que existe um numero dez vezes maior de homens dentro do forte, armados ate os dentes e sabe o que é pior? Metade deles deve ter um parente do nosso lado.

Não sabia o que responder. Infelizmente o que ele dizia era verdade e não conseguia imaginar como alguém se sentia sabendo que em poucas horas, deveria usar o fio de sua arma para sangrar um ente querido que havia escolhido o lado oposto naquela guerra. Aquilo me deu arrepios e fiquei feliz por não ter familiares.

- Não é fácil fazer o meu trabalho, não importa quem ganhar essa guerra, os dois lados já perderam quando ela começou e não quero imaginar o que faremos quando a população não puder mais aguentar. Isso precisa acabar logo.

- Então é melhor um dos lados ganhar essa guerra logo.

Augusto me olhou com os olhos cerrados e me arrependi do que falei, era obvio que não deveria querer a vitória de nossos inimigos, mas algo me dizia que não era por isso que ele me olhava daquela forma.

- Você tem coragem ferreiro – ele bateu no meu ombro, riu e se virou para voltar ao acampamento. Levei um tempo para segui-lo, tentando entender o que ele queria.

Quando cheguei novamente no acampamento, Augusto estava preparando seus homens e passando tochas para todos. Ele me olhou e havia dor em seus olhos.

- Vamos Ulthred – ele me estendeu uma tocha – Esta frio essa noite, ´vamos levar fogo a nossos irmãos.

Hesitei e quando sentia madeira em minhas mãos, senti o peso que ela carregava, afinal, eu estava a caminho de matar pessoas que não tinham nada a ver com as duas rainhas, iria queimar suas terras e depois ajudar aqueles homens a matarem seus familiares.

Naquela hora eu amaldiçoei o dia em que não deixei que o matassem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário