sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A amante da guerra – Parte III

O Grande Líder

Levou cerca de duas semanas para que chegássemos ate onde o líder de cara de cicatriz estava. Quando saímos da área fértil de nossas terras e entramos nos desertos que separavam nossas terras do resto do mundo, percebi o perigo que estava correndo.

Nosso povo era um, seguíamos o mesmo código de leis e todos deviam obedeciam ao grande pai, o mais velho e sábio dos xamas que tinham contato com os Deuses. Porem fora das cidades, nossos homens se dividiam em Kans, cada qual com seu líder e seguindo seus próprios ideais. Geralmente os Kan entravam em conflito, pois os homens sempre procuravam por uma boa batalha e uma forma de mostrar seu valor aos Deuses, mas alguns tentavam entrar nos territórios inimigos e conquistar suas terras, tomar suas riquezas e principalmente suas vidas.

E eu estava sendo arrastada para uma dessas incursões.

Quando adentramos as fileiras de tendas, meus ouvidos foram tomados com o som da festa, o cheiro da comida. Por todos os lados haviam homens festejando e erguendo suas conquistas, armas e o que os estrangeiros chamavam de armaduras, algo que nosso povo repudiava e que seria transformado em armas na cidade mãe.

- Veja como o Kan de meu pai é poderoso, além de vencermos seu pai, vencemos os malditos covardes de armadura – havia jubilo estampado no rosto de cara de cicatriz, um jubilo doentio que me dava vontade de abrir sua boca com uma faca.

Ele me jogou no chão quando chegou ate uma grande fogueira acesa no meio das tendas. Olhei para frente e vi um homem gigante sentado em uma pedra, tomando um caneco de alguma bebida. Ele era assustador, não somente pelo seu tamanho, mas também por estar todo envolto em peles e ossos de leões e outras feras.

- Grande líder – sussurrei.

Aquele homem era conhecido por ser um dos maiores lideres de Kan que existia, ele era temido por sua ferocidade e por não demonstrar piedade no campo de batalha. Mas haviam outros dois motivos para sua fama, o primeiro era o fato dele conseguir domesticar e liderar leões no campo de batalha, o que poucos faziam e também por seus homens  seguir-lo feito loucos, tomados por uma fúria estranha e descontrolada.

- Vejo que voltou com vida – havia insatisfação na fala do grande líder, que encarava seu filho com o ódio e repudio – E trouxe uma mulher, o que pretende fazer com ela?

Cara de cicatriz ficou incomodado com a provocação de seu pai, mas era esperto o suficiente para não fazer nada além de baixar a cabeça e falar:

- Estou lhe dando ela.

- E por que eu iria querer essa cadela? Eu tenho quantas mulheres eu quiser nessa tribo – ele pegou o braço de uma moça que estava próxima e a puxou, colocando-a em seu colo e depois apertando seu seio esquerdo.

- Ela é a filha do matador de bestas. É um premio.

O gigante largou a mulher e se levantou, ele parou na minha frente, se abaixou e ficou ali me olhando por alguns segundos, quando se levantou e socou o rosto de seu filho, o jogando no chão.

- Se você quisesse me dar um premio, deveria ter me trazido o maldito vivo. E eu teria deixado ele te matar e alimentar os leões com seus restos.

Aquilo me pegou de surpresa.

- Maldito o dia em que eu engravidei tua mãe. Quem você pensa que é para pegar meus homens e sem permissão matar o pai dela? – ele ergueu seu filho com uma única mão e depois o jogou novamente no chão – Você não passa de um filho estupido que jamais deveria ter nascido.

- Mas eu o matei, eu matei o matador de bestas. Eu! – seu filho parecia ter perdido todo o juízo, pois devolvia os olhares de ódio de seu pai.

- E isso não prova nada – ele fez um gesto e uma das mulheres me ajudou a ficar de pé – Qual seu nome querida?

- Shara – respondi sem jeito.

- Shara – ele repetiu e depois coçou a grande barba ruiva – Você tem os olhos do seu pai. Não posso apagar o que o estupido do meu filho fez, mas ao menos posso lhe garantir segurança por um tempo, se aceitar.

Cara de cicatriz pegou seu machado e me segurou gritando:

- Ela é minha! Eu a capturei, ela é minha por direito!

Seu pai pegou uma tora da fogueira e a apontou para seu filho, que foi cercado por homens, apenas esperando a ordem para mata-lo.

- Se você não a soltar, eu juro que te mato.

Ele apertou seu machado contra meu pescoço e não percebeu quando peguei a faca que estava presa em sua cintura. Não pensava que seu pai fosse mesmo mata-lo e provavelmente ele me mataria pelo que iria fazer, mas eu precisava vingar a mote de meu pai, custasse o que custasse.

Atravessei a lamina em sua coxa, perfurando o músculo ate encontrar o osso e quando ele caiu no chão berrando, saltei por cima dele e enfiei a faca em sua genital. Seu berro fez com que todos parassem assustados enquanto eu puxava a faca para cima e manchava o chão com seu sangue.

Sem pensar duas vezes me levantei ainda com a arma nas mãos, preparada para matar qualquer um que tentasse me atacar, mas tudo o que vi foram homens rindo e seu pai olhando-o enquanto ele gemia no chão, tentando parar o sangramento.

- Cala boca rapaz, ele não servia para nada mesmo – eu não conseguia entender como um pai conseguia dizer aquilo para um filho. Ele era sangue do seu sangue, mas para aquele gigante, seu filho parecia como um animal ruim que você quer se livrar – Largue essa arma garota, ninguém vai te machucar. Prometo.

Hesitei um pouco, mas depois cedi a sua promessa e para minha surpresa eu fui tratada como uma convidada de honra. Algumas horas depois cara de cicatriz havia morrido e seu pai simplesmente o deu aos leões.

Naquela noite eu dormi tranquilamente, sem medo. Mas bastou o soar de uma corneta para que mais uma vez meu destino mudasse completamente.

O que eu não imagina, era que havia um proposito em todas as mortes que precisei aguentar.

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